Carta legado do 10º Fórum LIDE de Varejo e Marketing
O varejo pode ir mais longe.
Marcos Gouvêa de Souza, presidente do LIDE Comércio. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
No momento em que celebramos 10 anos de Fórum LIDE de Varejo e Marketing, assistimos a memorável evolução estratégica dos setores, tanto no mundo como no Brasil, principalmente.
Isso tudo tem a ver com os reflexos das transformações na nossa sociedade e economia, circunstâncias favoráveis para o protagonismo do varejo em muitos aspectos.
A transformação digital, precipitada pela expansão tecnológica ressaltou a importância da competividade nos negócios, melhorando o portfólio e ampliando a oferta de novos produtos e serviços, colocando tudo, absolutamente tudo, ao alcance de um simples clique.
Se isso trouxe fôlego ao omniconsumidor cidadão, o epicentro de todo esse processo transformacional, também revolucionou o varejo, que passou a ser um personagem que ouve, conversa, interage, entende de forma constante e permanente com esse consumidor fígital e independente.
Aí está o aumento da relevância desse setor que, no caso do Brasil, pode ser medida pelo fato de o comércio varejista, além de ser o maior empregador privado do país, ter sofrido alta na participação no PIB, índice que foi de 19% em 2002 para 28 % em 2021. Como referência, o varejo e comércio representam 27% do PIB dos EUA mesmo percentual que tínhamos no Brasil em 2019, na fase pré-pandemia.
Essa é uma das razões pelas quais os varejistas brasileiros, antes considerados tradicionalistas, como Magalu, Americanas, Via, Riachuelo, Renner, Arezzo, Carrefour, entre outros tantos nomes, tornaram-se protagonistas da evolução de mercado e, hoje, lideram a transformação de seus modelos de gestão para serem Ecossistemas de Negócios. Esse processo deve-se à rápida evolução, inspirados pelos exemplos que nasceram na China por meio das redes comerciais como Alibaba, Tencent, JD e outros.
A partir de novas ferramentas e formas de interação constante com os consumidores, usando modelos avançados de inteligência artificial e investindo mais no ambiente digital, os Ecossistemas devem se expandir para outras categorias, formatos, canais, marcas, além de serviços. Isso gerará novos modelos no mercado, ampliando a participação das marcas, que serão mais lembradas por sua ousadia de renovação, importância estratégica e econômica.
Isso significa que a atual participação do comércio e do varejo no PIB brasileiro, poderá crescer nos próximos anos de forma irreversível, à medida que se ampliarem novos entrantes no setor, elevando o grau de competitividade.
Essa é uma das razões pelas quais a indústria avança nos negócios, para que também chegue ao varejo, como é o caso de marcas da Nestlé com a Nespresso e Nescafé; da BRF com Mercato, JBS com Swift; Unilever com lavanderias Omo; além das fabricantes Apple e Motorola com suas lojas-conceito, entre outras marcas de consumo atuando diretamente com o consumidor final por meio dos market places de empresas do varejo tradicional.
Que se reconfigura em Ecossistemas de Negócios e a plataformas exponenciais como Amazon para atender essa demanda e oportunidade.
Conscientes que essa necessidade de proximidade e constante relacionamento é desafiadora, se avaliarmos a evolução tecnológica. Apesar disso, ao mesmo tempo, isso nos faz pensar estratégias para atingir o consumidor, em tempo real.
Uma questão importante para o segmento, está em atuar com mais responsabilidade social, de forma mais decisiva para minorar as desigualdades, especialmente no nosso país, onde há um cenário de desigualdade social.
Como bem lembrou Eduardo Lyra, na abertura do 10º Fórum Lide do Varejo: “o Brasil não é pobre. O Brasil é injusto”. E, refletindo a respeito, nenhum setor tem tanta proximidade e conhecimento dessa realidade que varejo tem.
Quer um exemplo? Quando discutimos ESG, DEI e muitos conceitos que trazem uma nova consciência para a responsabilidade social, na esfera empresarial, o varejo, de forma mais visionária a essas causas para reduzir a vulnerabilidade socioeconômica, passa a integrar seus fornecedores de produtos e serviços por meio de inciativas, como a parceria da Nestlé com a ONG Gerando Falcões, resultado que tornou ambas de protagonistas na área econômica e social, cada vez mais relevante e benéfica às comunidades carentes.
Por fim, diante de tudo isso que comentei, temos um cenário desafiador em todos os aspectos, em vista do drama com a guerra na Ucrânia e os impactos geopolíticos se espalhando pelo mundo. E, em se tratando da realidade do nosso país, enfrentamos a frustrante e preocupante polarização política, somados aos 12 milhões de desempregados e a queda de renda real de 9,7%, no último ano, segundo pesquisas. Há razões suficiente para nos preocuparmos, mas também, para fazer parte da solução e não do problema, por meio de atitudes práticas.
Em tempos em que falamos da transição de serviços do mundo físico para o digital, é preciso ser mais humano, estabelecendo mais proximidade para conhecer, entender, dialogar e poder acessar o omniconsumidor-cidadão em tempo real, tanto no mundo físico e no digital, para que as relações não sejam superficiais. E isso traz para o varejo uma carga de responsabilidade que não pode e não deve ser ignorada.
Creio que essa seja a mensagem inicial do nosso evento este ano. E eu espero, que seja também a reflexão necessária para que cada um de vocês façam parte das transformações que tanto desejamos para o bem-estar da nossa nação. Meu muito obrigado a todos que estiveram presentes.
Marcos Gouvêa de Souza, presidente do LIDE Comércio
Marcos Quintela, presidente do LIDE Comunicação