Todo mundo precisa tomar vitamina D? Entenda as novas diretrizes
Atual recomendação dos EUA desaconselha o uso indiscriminado da substância e aponta quais grupos, de fato, necessitam de doses mais altas.
Atual recomendação dos EUA desaconselha o uso indiscriminado da substância e aponta quais grupos, de fato, necessitam de doses mais altas. (Foto: Freepik)
Suplementar vitamina D virou rotina para muita gente. Por conta do uso sem orientação profissional, a Sociedade Americana de Endocrinologia, nos Estados Unidos, lançou, em junho, novas diretrizes para o uso correto da substância.
“Muitas pessoas no mundo todo tomam a vitamina D em quantidades que ninguém controla direito, sem ninguém saber se essas doses realmente fazem bem para alguma coisa, se não fazem... por isso veio a necessidade da criação de novas diretrizes”, explica a endocrinologista Marise Lazaretti, membro da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), que participou da elaboração do documento.
Ela conta que, desde 2011, quando as diretrizes anteriores foram divulgadas, muitos novos estudos importantes foram publicados e precisavam ser adicionados às recomendações da entidade.
Por isso, foi criado um painel multidisciplinar com especialistas sobre o tema, que identificaram e priorizaram 14 questões clinicamente relevantes relacionadas ao uso de vitamina D.
No organismo, essa substância tem como principal função regular os níveis de cálcio e fósforo no sangue, o que é essencial para a saúde óssea. Além disso, ela tem demonstrado outros efeitos relevantes relacionados às funções musculares e imunológicas.
“O documento representa um passo importante para uma abordagem mais embasada em evidências”, opina o endocrinologista Carlos Andre Minanni, coordenador médico do check-up do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Essas diretrizes evitam a suplementação rotineira em excesso, reconhecendo os riscos e benefícios do nutriente. O documento contribui para evitar desperdício de recursos de saúde ao reduzir exames que, muitas vezes, são desnecessários”, acrescenta.
Segundo a endocrinologista da SBEM, as novas diretrizes têm o objetivo de avaliar se a suplementação previne doenças. Além disso, elas são direcionadas à população em geral, ao contrário das anteriores, que eram destinadas especialmente às pessoas com enfermidades crônicas, como osteoporose e câncer.
Novas recomendações
Baseados em todos esses fatores, os especialistas responsáveis pelo documento chegaram à conclusão de que alguns grupos devem receber suplementação de vitamina D sem a necessidade da sua dosagem.
“O fato de analisarmos quem são os indivíduos de risco, que devem tomar a suplementação sem condicioná-la ao exame, é uma das grandes novidades desse guideline. A imposição da dosagem pode restringir o acesso de quem, de fato, precisa de uma dose maior da vitamina”, diz Lazaretti.
De acordo com o documento, os grupos que precisam de suplementação são estes:
• Crianças e adolescentes de 1 a 18 anos, para os quais se confirmou que o nutriente reduz o risco de raquitismo e observou-se que evita infecções respiratórias agudas;
• Idosos com mais de 75 anos, nos quais a substância minimiza o risco de mortalidade;
• Gestantes, já que protege contra pré-eclâmpsia, parto prematuro e baixo peso ao nascer; e
• Pessoas com pré-diabetes, pois o nutriente diminui a probabilidade de diabetes nesse grupo específico.
“Já para a maioria dos adultos com menos de 75 anos e sem nenhuma doença preexistente, as diretrizes desaconselham a dosagem rotineira, bem como a suplementação além da ingestão diária recomendada”, complementa Minanni.
Lazaretti ressalta que, no Brasil, há algumas peculiaridades: vivemos em um país tropical e uma das principais formas de obtenção da vitamina D é através da luz solar, pois os raios UV são capazes de ativar a síntese dessa substância no organismo. “Por isso, além dos grupos já mencionados, quem tem mais risco de deficiência da substância de acordo com os estudos são as mulheres, os obesos, pessoas com pele mais escura, idosos e quem mora em latitudes mais extremas, como na região Sul”, diz.
Cuidado com os excessos
Mesmo que a suplementação seja bem-vinda para alguns grupos sem a necessidade de exames para dosar a quantidade da substância no sangue, não convém exagerar. Nas quantidades médias indicadas pelo consenso dos EUA (cerca de 600 unidades diárias para a população em geral e 800 unidades para quem precisa de reforço), não há chance de intoxicação.
Entretanto, isso pode acontecer em quem utiliza quantidades muito grandes por um tempo prolongado. “Ao contrário do que muitos pensam, apesar do fato de ela ser vitamina, não é inócua. Altas doses utilizadas por períodos longos podem desencadear elevação do cálcio no sangue, náusea, vômito, fraqueza, anorexia, desidratação e até insuficiência renal”, alerta o médico do Einstein.
Em casos extremos, também podem ocorrer alterações neuropsiquiátricas, como confusão, psicose ou coma, além de pancreatite e bradiarritmia, que é a arritmia caracterizada pelos batimentos cardíacos lentos.
O ideal, portanto, é não tomar o suplemento por conta própria. Conversar com um especialista para que ele indique a opção e a quantidade mais indicadas é sempre a melhor ideia, orientam os médicos.
Fonte: Agência Einstein