Risco de aliança entre big techs e governos está no grande poder político e econômico que concentram

Segundo Roseli Figaro, isso representa muito poder e muito dinheiro circulando na mão de pouca gente, que para manter o poder passa a fazer injunções nessa forma de Estado.

facial-recognition-collage-conceptGrande quantidade de poder econômico e político das big techs é um sinal de atenção. (Foto: Freepik)

Uma série de discussões sobre limites democráticos e big techs foi iniciada após a posse do novo presidente norte-americano, Donald Trump, e suas primeiras decisões e ordens de governo. Trump foi responsável por conceder a Elon Musk, CEO da Tesla e proprietário do X (antigo Twitter), o cargo de chefe do Departamento de Eficiência Governamental, ato que gerou críticas internacionais, além de iniciar mais um alarde entre a aliança de big techs e governos.

Para a professora Roseli Figaro, docente da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho, o problema inicia-se pela grande quantidade de poder econômico e político que as chamadas “empresas de plataformas digitais” possuem atualmente.

“Todas as cadeias produtivas são hoje, vamos dizer assim, comandadas, de certa forma, pelas novidades, pelas inovações das tecnologias dessas chamadas big techs. Sobretudo agora, nos últimos três, quatro anos, com a chamada inteligência artificial. Isso quer dizer muito poder e muito dinheiro circulando na mão de pouca gente, ou seja, um grupo pequeno de empresários, que passa, então, para manter o seu poder, a fazer injunções nessa forma de Estado.”

Liberdade de expressão

Segundo Roseli, o atual sistema de governo, a democracia liberal, não mais os interessa por não favorecer seus interesses. Dessa forma, os grandes representantes dessas empresas procuram atacar as leis dos seus próprios países, especificamente das áreas de regulação de informação e liberdade de expressão, sem a devida moderação. Entretanto, para a professora, a defesa desses elementos é uma falácia. “Eles não reivindicam liberdade de expressão porque se reivindicassem liberdade de expressão eles não se colocariam contra exatamente aqueles que querem exercê-la, como outros países. A liberdade dos palestinos, a liberdade, por exemplo, do Brasil, do governo brasileiro, agora com intervenções via outras instituições”, avalia a professora.

Frente a esse problema, Roseli defende que o jornalismo, área mais afetada sob a onda de desinformação e liberdade de expressão desmedida, tem um importante papel no impedimento da expansão desse domínio ao garantir a veiculação da notícia verdadeira. E, para ela, o grande problema está na reprodução desenfreada e impensada de mensagens externas, principalmente aquelas propositalmente modificadas. “O jornalismo precisa fazer jornalismo. Precisa fazer jornalismo, precisa resistir, porque o jornalismo é o que tem sofrido os maiores ataques nesse modelo de comunicação controlado por essas redes sociais, pelas big techs. O jornalismo e os profissionais da comunicação têm visto serem destruídos os seus postos de trabalho, as formas e as regras da sua conduta profissional. Então é muito grave o que nós temos vivido.”