Política de alertas sobre riscos reduziu cesáreas no país
Efeito da diretriz de 2016 foi mais forte na rede pública e com mulheres a partir do segundo parto, conclui estudo.
Uma política nacional que fixou prazo gestacional mínimo para as cesarianas eletivas e determinou a orientação das parturientes sobre os riscos do procedimento conseguiu reduzir os partos cirúrgicos em 3%. O peso, o tempo de gestação e o indicador de bem-estar dos recém-nascidos também melhoraram discretamente.
Em junho de 2016 passaram a vigorar em todo o país novas regras, definidas pelo Conselho Federal de Medicina, objetivando diminuir a alta incidência de partos cesarianos no Brasil. De um lado, elas estipularam 39 semanas como tempo gestacional mínimo para a realização do procedimento eletivo — quando o método é uma opção da mãe, não havendo indicação clínica para a cirurgia.
De outro lado, o regramento obrigou os serviços de saúde a oferecerem informações detalhadas sobre os riscos e os benefícios dos tipos de parto para as gestantes que optarem inicialmente pela cesariana após o prazo mínimo.
A introdução dos novos protocolos foi utilizada pelos pesquisadores do Insper Carolina Melo e Naercio Menezes Filho como uma baliza para comparar a situação dos partos cesarianos antes e depois da mudança.
Como os casos com indicação médica para procedimento cirúrgico não foram afetados pela medida, uma parcela importante deles — quando os fetos não estão em posição cefálica, propícia ao parto vaginal — foi usada no estudo como contraste para detectar alterações de padrões nas cesarianas voluntárias.
A incidência de cesarianas eletivas em que o feto estava em posição favorável ao parto vaginal passou a ter um comportamento cadente e divergente do padrão anterior às mudanças. A análise econométrica estimou que a participação de cesarianas caiu de 55% para 53,4% do total de partos no país após a introdução dos novos protocolos.
Esmiuçando o resultado, os pesquisadores notaram que o efeito da redução se concentrou nas mulheres que, já em trabalho de parto, optaram pelo método vaginal, indicando que as instruções que elas receberam sobre riscos e benefícios dos procedimentos à sua disposição foram o fator decisivo para o desfecho. Mulheres que não estavam no seu primeiro parto atendidas em hospitais da rede pública (SUS) foram as que mais diminuíram as cesarianas, de acordo com o estudo.
A política também aumentou ligeiramente o peso médio ao nascer (10 gramas), a duração da gestação (1 dia) e também o indicador de Apgar (0,03 ponto em escala de 0 a 10), que avalia o bem-estar do recém-nascido no seu primeiro minuto de vida.
Fonte: Insper Conhecimento
Foto de capa: Agência Brasil