Menos feijão à mesa: pesquisa aponta queda no consumo na alimentação dos brasileiros
Apesar de ser um alimento altamente nutritivo, o feijão tem deixado de compor a dieta da população e isso tem impacto direto na saúde, aumentando risco de sobrepeso e obesidade.
Estudo revelou uma associação direta entre a redução do consumo regular de feijão e o aumento do risco de sobrepeso e obesidade. (Foto: Unslpash)
Aquela clássica combinação saborosa de feijão com arroz, tão tradicional no Brasil, não deve ser negligenciada na mesa das refeições diárias. Apesar de ser um alimento altamente nutritivo, o feijão tem sido cada vez menos presente na dieta da população, o que impacta diretamente na saúde. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que revelou uma associação direta entre a redução do consumo regular de feijão e o aumento do risco de sobrepeso e obesidade.
O estudo foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e primeiro partiu da observação dos resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que já indicavam uma tendência importante de redução no consumo de alimentos in natura ou minimamente processados pela população brasileira. A partir daí, a nutricionista Fernanda Serra Granado, autora do estudo, resolveu analisar outra base de dados importante: o Vigitel (inquérito telefônico realizado anualmente pelo Ministério da Saúde para fazer uma vigilância dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis).
A base de dados do Vigitel possui informações de mais de 500 mil adultos que responderam à entrevista telefônica e foram acompanhados entre os anos de 2007 e 2019. A nutricionista resolveu estudar a tendência de redução no consumo da leguminosa e o impacto disso na saúde.
Segundo Granado, as respostas sobre o consumo de feijão foram divididas em três indicadores: não consumo, consumo não regular (1 a 4 dias por semana) e consumo regular (5 a 7 dias por semana). Após o cruzamento de dados, ela observou uma tendência mais intensa de queda no consumo entre 2012 e 2017 e, por meio de cálculos estatísticos, projetou que a ingestão de feijão deve cair ainda mais até 2030.
Para se ter uma ideia, em 2012, 67,5% dos brasileiros afirmaram que mantinham o consumo regular de feijão na dieta. Em 2017, esse número caiu para 59,5% dos entrevistados e, segundo a nutricionista, a projeção estima que o consumo regular de feijão caia para 46,9% dos brasileiros em 2025, momento no qual a maioria da população adulta deixará de comer esse alimento regularmente.
“Essa tendência está se confirmando ano após ano e isso é muito preocupante. O feijão, além de ser um símbolo cultural da alimentação do brasileiro, compõe o cardápio de uma dieta saudável, equilibrada e balanceada. A redução no consumo indica que as pessoas estão substituindo os alimentos naturais por ultraprocessados e por opções menos saudáveis”, explica a nutricionista.
O que explica a queda no consumo?
De acordo com a pesquisadora, algumas hipóteses podem explicar a queda no consumo: a falta de tempo ou dificuldade de preparar alimentos naturais ou minimamente processados em casa; a oscilação nos preços do feijão; e a conveniência e acessibilidade aos alimentos ultraprocessados e prontos para o consumo.
Diante deste cenário, a nutricionista decidiu então avaliar se essa tendência de redução trazia algum impacto direto na saúde da população. Para isso, adicionou dois novos indicadores na análise: baixo consumo (1 a 2 dias por semana) e consumo moderado de feijão (3 a 4 dias por semana).
E, para sua surpresa, os resultados apontaram que o grupo que respondeu que não consome feijão teve 10% mais chances de desenvolver excesso de peso e 20% mais chances de desenvolver obesidade. Por outro lado, o grupo que afirmou que faz consumo regular de feijão (em 5 ou mais dias da semana) apresentou fator de proteção no desenvolvimento de excesso de peso (14%) e obesidade (15%). Os dados foram realizados em comparação aos consumidores moderados da leguminosa durante a semana (3 a 4 dias por semana).
“Esses resultados só reforçam a importância do feijão na alimentação. Ele é um alimento rico em proteínas, vitaminas e minerais e integra uma dieta saudável e nutricionalmente equilibrada. Recomendo muito que as famílias priorizem o alimento natural nas refeições e façam deles a sua escolha”, afirmou.