Mastigar gelo: hábito pode prejudicar a saúde bucal
Apesar da sensação agradável, prática pode danificar os dentes, principalmente quando entra na rotina.
Mastigar gelo: hábito pode prejudicar a saúde bucal. (Foto: Pixabay)
A sensação agradável e relaxante do ato de mastigar cubos de gelo esconde riscos para a saúde bucal — principalmente quando o comportamento entra na rotina. O choque de temperatura provocado pelo contato com o gelado leva à perda de sensibilidade nas gengivas e ao desgaste dos tecidos dentários. Associado ao fato de o gelo ser rígido, a mastigação também pode causar lesões nas mucosas e até fraturas nos dentes.
Um dos pontos de atenção, segundo Luiz Evaristo Volpato, cirurgião-dentista e professor da Universidade de Cuiabá, é que o paciente nem sempre percebe que está se ferindo, já que o gelo diminui a sensação de dor. Outros sintomas são a maior sensibilidade a comidas e bebidas frias ou quentes, pelo enfraquecimento do esmalte (material que reveste os dentes) e o risco de cáries, devido a uma maior vulnerabilidade à penetração de bactérias.
Mesmo quem faz uso de aparelhos dentários e próteses precisa ficar atento, segundo o especialista. Esses itens podem se soltar em contato com o gelo, ou quebrar quando a prática se tornar corriqueira.
Como tratamento, o paciente pode precisar de um preenchimento com resina ou procedimentos mais invasivos, como o radicular, que exige um tempo longo de recuperação e pode ser doloroso, dependendo da gravidade dos danos.
Riscos com a idade
Segundo Volpato, os prejuízos à saúde bucal variam com a idade. “Pessoas mais jovens têm o potencial maior de envolvimento da polpa dos dentes nos casos de fratura, pois neles a polpa é mais volumosa. Nos mais velhos, o potencial maior é de sensibilidade por sofrerem retração gengival com maior frequência”, explica o especialista.
Benefícios?
Para as pessoas diagnosticadas com câncer e sob tratamento de quimioterapia, mastigar gelo pode ser benéfico, de acordo com o cirurgião-dentista. Como o tratamento oncológico induz o aparecimento de lesões dolorosas na cavidade bucal, as mucosites, mantê-la gelada durante as sessões reduz a chegada do quimioterápico até a mucosa.
“O gelo provoca a constrição dos vasos e, com isso, reduz a toxicidade aos tecidos bucais. Esse uso deve ser discutido com a equipe oncológica, do qual o cirurgião-dentista deve fazer parte”, explica Volpato.
Sintoma de anemia
Há casos em que o ato de mastigar gelo pode ser mais que um hábito, mas um sintoma de anemia. De acordo com o cirurgião-dentista, quando há uma deficiência nutricional de ferro, o paciente apresenta sintomas de cansaço e falta de ar porque há um enfraquecimento e carência dos glóbulos vermelhos no sangue, e o oxigênio não é distribuído adequadamente para as células.
Ao mastigar o gelo, uma quantidade maior de sangue é levada ao cérebro que, consequentemente, recebe mais oxigênio. Isso contribui para o combate da fadiga, tornando as pessoas mais alertas e conscientes. “Se um indivíduo tem esse hábito, é interessante examinar se não está sofrendo dessa carência nutricional”, alerta o professor.
A prática também pode estar associada a transtornos alimentares. A pagofagia, por exemplo, é a compulsão de mastigar gelo causada por estresse, mania e obsessão. Em pacientes com bulimia e anorexia, o hábito pode aparecer como sintoma, pois aplaca a fome e imita a sensação de satisfação experimentada após uma refeição. Para esses casos, indica-se o tratamento psicoterapêutico e nutricional.
Como parar de mastigar gelo?
A conscientização dos danos causados pelo hábito associada a terapias são as medidas mais indicadas para impedir que o mastigar gelo se torne uma rotina, segundo Sérgio Kahn, cirurgião-dentista. A curto prazo, porém, os pacientes podem tentar substituir o gelo por outros itens, como por exemplo:
- chupar uma bala para manter a boca ocupada;
- tomar sorvete ou picolé;
- comer uma cenoura crua ou frutas crocantes, como maçã e pera, e alimentos crocantes como granola e castanhas;
- procurar apoio psicológico.
*Sob supervisão da jornalista Amanda Milléo.
(Fonte: Agência Einstein)