Indústria brasileira deve estar preparada para transformar conhecimento científico em tecnologia, defendem especialistas
Margareth Dalcomo (Fiocruz), Dimas Covas (Butantan) e Natalia Pasternak (Questão de Ciência) participaram do 10º Fórum LIDE da Saúde e Bem-Estar. Evento também reuniu virtualmente empresários, especialistas e autoridades para debater desafios e perspectivas para o setor.
Microbiologista Natalia Pasternak defendeu investimentos na ciência. (Foto: Anderson Timóteo/LIDE)
O ecossistema industrial brasileiro deve estar preparado para transformar o conhecimento da academia em produto tecnológico e para responder demandas urgentes. A defesa foi feita por cientistas durante o 10º Fórum LIDE da Saúde e Bem-Estar, que reuniu virtualmente empresários e especialistas para debater o setor nesta segunda-feira (7).
A médica pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcomo, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, e a microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, disseram que a pandemia evidenciou fragilidades do setor. Os três acreditam no potencial brasileiro, mas pediram foco e investimentos.
Para Margareth Dalcomo, a Fiocruz tem prestado um papel relevante na produção de conhecimento por meio de vacinas e medicamentos, mas a parceria público-privada nunca foi tão necessária e atual.
"O Brasil nunca revelou a necessidade para que a indústria química seja realmente capaz de responder aos desafios. Não é possível que o Brasil seja dependente de matérias primas [estrangeiras] para o combate de doenças endêmicas".
Presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas. (Foto: Anderson Timóteo/LIDE)
Dimas Covas criticou a falta de cultura para consolidar em produto aquilo que se aprende na academia, principalmente no combate a grandes crises, como a atual provocada pela pandemia de Covd-19.
"Nós também não temos a transformação do conhecimento em tecnologia. Falta uma política industrial focada em biotecnologia, que hoje representa o maior ativo da indústria farmacêutica".
A microbiologista Natalia Pasternak afirmou que o Brasil produz conhecimento de "altíssima qualidade" e lembrou que a ciência básica é essencial para o desenvolvimento do país.
"Não existe uma conversa entre a academia e indústria no Brasil. Existe uma conversa entre academia e governo. A ciência brasileira já sofre por falta de investimento há muitas décadas, mas piorou muito. Se antes, em governos passados, a ciência sofria por problemas de financiamento, hoje a ciência sofre por ataques diretos".
VP do Instituto Weizmann, Irit Sagi, participou direto de Israel. (Foto: Anderson Timóteo/LIDE)
Os apontamentos dos médicos e cientistas está no contexto da defesa da vice-presidente para transferência tecnológica do Instituto Weizmann, Irit Sagi. Ela participou do evento a partir de Israel, e lembrou o caráter fundamental da ciência básica, que é desenvolver um ecossistema focado naquilo que o consumidor final precisa.
"Sempre focamos numa operação bem-feita no ambiente científico, isso envolve os estudantes, todos têm um trabalho informal, há uma liberdade no agir dos pesquisadores. Precisamos usar a melhor ferramenta possível para gerar melhores conhecimentos. Trabalhamos com nossos laboratórios o tempo inteiro".
Inteligência artificial
O presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Sidney Klajner, reafirmou que a pandemia do novo coronavírus acelerou a transformação digital do setor. Segundo ele, é necessário que a cultura organizacional das empresas coloque o paciente no centro e inteligência artificial como meio para qualificar e otimizar produtos e serviços.
“A partir do processamento de dados, geraremos novas mentes com foco na transformação digital. Isso exigirá participação dos stakeholders para que melhoremos em expertise e outros setores da saúde. A tecnologia propõe soluções práticas para nos ajudar a desenvolver iniciativas e ferramentas. Nesse ciclo agrega ainda a geração de dados e investimento na medicina, e isso exige também a participação dos pacientes".
Presidente da Comissão de Inovação do Hospital das Clínicas, Giovanni Guido. (Foto: Anderson Timóteo/LIDE)
Para o neurorradiologista e responsável pela área de Big Data do Hospital Albert Einstein, Edson Amaro, não é mais possível pensar em política da saúde "pensando no todo". Segundo o executivo, é importante trabalhar com as particularidades para, assim, gerar conhecimento e aprendizado no contexto geral.
"Nossa sociedade envelhece mais rápido e tem desigualdades. A alta tecnologia pode nos ajudar. Mas os médicos estão preparados? Os pacientes também? Somos mais sensíveis e menos específicos. Com a utilização de dados, a prática médica é melhor. Temos de incorporar tecnologia no dia a dia".
O presidente da Comissão de Inovação do Hospital das Clínicas, Giovanni Guido Cerri, disse que o Brasil vive um momento difícil e que o enfretamento da pandemia "é um desastre". O médico defendeu a inteligência artificial como meio para tornar o fornecimento e a gestão de saúde mais eficientes.
"A tecnologia é o caminho. Saúde é um dos setores que tem grande potencial de automação, mas é um dos que tem menos. A IA tem um papel enorme na tarefa do cidadão cuidar da saúde. É fundamental o suporte clínico e sem dúvida o acompanhamento das doenças crônicas".
Fernando Maluf, do Hospital Beneficência Portuguesa Mirante de São Paulo. (Foto: Anderson Timóteo/LIDE)
Saúde mental
O diretor do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital Beneficência Portuguesa Mirante de São Paulo, Fernando Maluf, lembrou que a tecnologia quebra barreiras e auxilia no desenvolvimento do setor, mas requer investimentos contínuos. Ele também defendeu ampliação em pesquisa e desenvolvimento para ampliar o alcance à população.
"Tecnologia é maravilhosa, mas precisamos ficar atentos aos acessos. Saúde mental é ter acesso a bons remédios e à tecnologia de ponta. Por exemplo, o Brasil, infelizmente, representa menos de 3% de todos os estudos que andam no mundo com câncer".
Marcelo Katz, cardiologista e Clínico Geral do Hospital Israelita Albert Einstein, defendeu a promoção à saúde mental a partir da meditação. "Deveria ser estimulada como prevenção a diversos males, podendo ser difundida no ambiente corporativo com esse intuito e ser benéfica a todos", disse.
O diretor do Instituto for Heathcare Improvement para Europa e América Latina, Pedro Delgado, disse que o tema requer cuidado e autoconhecimento, principalmente no atual mundo conectado. "Precisamos alimentar nossas relações afetiva e nutrir nossa alma e controlar o uso da tecnologia".
Claudio Lottenberg, presidente do LIDE Saúde, curador do evento. (Foto: Anderson Timóteo/LIDE)
Fórum
O 10º Fórum LIDE da Saúde e Bem-Estar teve curadoria de Claudio Lottenberg, membro do Comitê de Gestão do LIDE, e comando do chairman do LIDE, Luiz Fernando Furlan. A vice-presidente Executiva do Grupo Doria, Celia Pompeia, participou da mediação do evento, cuja íntegra está disponível na TV LIDE e nas principais plataformas de áudio.
Para a segurança dos envolvidos, foram elaborados rígidos protocolos de saúde. No local do evento, houve espaçamento entre os participantes, álcool em gel e o uso obrigatório de máscara. Todos os participantes, inclusive a equipe técnica e de apoio, foram submetidos a testes da Mendelics, que resultaram negativo ao novo coronavírus.