Imunização, transformação digital, longevidade e novos modelos assistenciais marcam debates do 11º Fórum LIDE de Saúde e Bem-Estar

Evento retorna ao formato presencial, reunindo os principais líderes do setor para debater as mudanças e tendências do segmento, especialmente em tempos pós-Covid.

e4075ca1-cfd1-4b27-be31-9fe804dc415dAdryana Polycarpo e Luiz Vicente Rizzo. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

“A medicina é uma ciência de verdades transitórias. Na pandemia, essas verdades estão sendo muito transitórias. A crise sanitária trouxe oportunidades, que podem render bons debates.” Com essa fala, Claudio Lottenberg, presidente do LIDE Saúde, abriu a 11ª edição do Fórum LIDE de Saúde e Bem-Estar. O encontro deste ano tem um significado especial por voltar a ser realizado presencialmente.

O novo coronavírus colocou as vacinas no centro do debate médico. Porém, meses após o início da imunização, ainda existem questões que precisam ser analisadas. É o caso, por exemplo, de Portugal: mesmo com mais de 90% da população plenamente vacinada, o país europeu vem testemunhando um aumento significativo na taxa de contágio – e, consequentemente, de óbitos decorrentes da Covid.

WhatsApp Image 2022-06-06 at 09.52.37Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente do Instituto de Pesquisa do Einstein. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

Do ponto de vista infectológico, segundo Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente do Instituto de Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, pode ser o caso de repensar a estratégia.

"Boa parte das vacinas que estão em estudo focam em impedir a infecção no próprio indivíduo. No entanto, talvez seja necessário focar em impedir o contágio, e apenas uma pequena parcela das vacinas que estão em desenvolvimento têm esse foco”, explica Rizzo.

Apesar de alguns lugares estarem com a população amplamente imunizada, é necessário levar em conta o desequilíbrio no acesso às vacinas.

"Na África, por exemplo, temos apenas 16% da população vacinada contra a Covid. Enquanto tivermos locais com baixa cobertura, ainda teremos altas taxas de contágio e o surgimento de novas variantes", aponta Adriana Polycarpo, diretora médica da Pfizer.

Além do combate ao vírus, durante a pandemia, a comunidade científica se viu enfrentando o ceticismo de leigos, que questionaram sem embasamento a eficácia das vacinas. Essa questão, porém, não é exclusividade da era contemporânea. "A ciência não foi mais maltratada durante da pandemia do que ela sempre foi", afirma Rizzo.

WhatsApp Image 2022-06-06 at 09.30.15 (10)Adriana Polycarpo, diretora médica da Pfizer. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

O infectologista menciona o episódio conhecido como a Revolta da Vacina, quando a população do Rio de Janeiro realizou diversos protestos contra a obrigatoriedade da vacinação ainda no início do século XX.

Felizmente, o movimento antivacina é algo pouco expressivo no Brasil, cujo Plano Nacional de Imunização completa 50 anos em 2023. O País é um dos mais eficientes em cobertura vacinal, e parte do sucesso se deve aos Dias Nacionais de Vacinação, data em que o mascote Zé Gotinha convoca a população a atualizar a caderneta de imunização. "Vacinação é um ato de cuidado com o próximo, um ato de cidadania", afirma Rizzo.

Participaram do debate Glaucia Vespa, diretora médica para a América Latina da Ipsen; e Joana Adissi, diretora geral de Vacinas da Sanofi.

WhatsApp Image 2022-06-06 at 11.10.16 (10)Segundo painel abordou a questão da transformação digital no setor. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

Transformação digital

O segundo painel abordou a questão da transformação digital no setor da saúde, um processo que foi bastante acelerado durante a pandemia – e que tem um imenso potencial, visto que o acesso a smartphones atinge mais de 80% da população brasileira.

Existem, porém, muitos desafios na aplicação da telemedicina. Em uma consulta on-line, por exemplo, o paciente pode relatar sintomas como tosse e mal-estar, que podem ser sinais de mais de 10 mil doenças, de um simples resfriado até um quadro severo de câncer.

4df6af2c-c1db-4f50-bc26-777ad888c9bbJohn Halamka, médico e presidente da Mayo Clinic Platform. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

A tecnologia permite que medições sejam feitas em tempo real, fornecendo ao médico informações cruciais tanto para diagnóstico como para o acompanhamento do paciente. Por exemplo: uma fralda geriátrica com sensores especiais pode fazer exames de urina. Relógios inteligentes acompanham o ritmo cardíaco, a pressão e a respiração, e por aí vai.

Outra frente importante é a análise de dados, que pode antever situações e ajudar o médico a tomar decisões em casos de emergência. Todo esse acúmulo de dados, porém, não serve de muita coisa sem integração. O atual desafio é unir o sistema de diferentes hospitais e ao mesmo tempo preservar a privacidade do paciente.

WhatsApp Image 2022-06-06 at 11.10.16 (3)Mifan Careem, vice-presidente de Arquitetura de Soluções e chefe de Prática de Saúde da WSO2. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

O painel contou com a participação de Edson Amaro, neurorradiologista e responsável pela área de Big data do hospital Israelita Albert Einstein; John Halamka, médico e presidente da Mayo Clinic Platform; Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP; Camila Diniz, Clinical Advisor e Account Manager da InterSystems; e Mifan Careem, vice-presidente de Arquitetura de Soluções e chefe de Prática de Saúde da WSO2.

Longevidade

O terceiro painel se dedicou a explorar a questão da longevidade. O envelhecimento da população é uma tendência cada vez mais evidente: em 2019, a parcela da população acima de 60 anos correspondia a 16%; estima-se que em 2100 esse número chegue a 30%.

O agravamento de questões ligadas à demência é justamente uma das sequelas da Covid entre idosos. Existem, porém, pesquisas que apontam formas de evitar problemas desse tipo. Quanto mais cuidamos do cérebro ao longo da vida, menor é a chance de desenvolver problemas neurológicos na velhice. E isso envolve praticar atividade física regularmente, meditação, adotar uma alimentação balanceada, evitar o tabagismo, descansar bem e cultivar laços sociais.

e7ca27e9-8de3-4fd4-9583-317d915066c3Elisa Kozasa, cientista e pesquisadora do Hospital Israelita Albert Einstein. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

Pequenas atitudes cotidianas podem ajudar muito. Um experimento recente demonstrou, por exemplo, que a mera lembrança de momentos estressantes afeta a atividade cerebral e a frequência cardíaca, ao passo que frases autocompassivas as deixam mais calmas.

Isso foi observado durante a pandemia, no acesso a notícias sobre a Covid: apenas dois minutos de notícias boas ou notícias ruins já eram o suficiente para alterar o humor das pessoas.

Participaram do debate Elisa Kozasa, cientista e pesquisadora do Hospital Israelita Albert Einstein; Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do InCor e diretor geral da Cardiologia do Hospital Sírio Libanês; José Augusto Ferreira, diretor de Atenção à Saúde da Central Nacional Unimed; e Leandro Fonseca, diretor de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade dos Sistemas de Saúde da Novartis.

5b38e691-c14b-44ad-be17-bcb9f2385807Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do InCor. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

Novos modelos

O último painel foi dedicado a novos modelos assistenciais. As empresas de saúde costumam conviver com o desafio de uma parcela pequena de pacientes corresponder a uma grande fatia do custo hospitalar.

A solução para isso, segundo Fernando Pedro, diretor executivo de Gestão de Valor em Saúde da Amil, pode ser uma mudança de abordagem: em vez de observar a performance, é necessário ter uma orientação data driven.

"Não quero que a operadora pense em reduzir custos, mas diminuir desperdício: encontrar os gargalos no sistema e ver onde pode ser mais eficiente", afirma o diretor.

85165783-8a28-48b8-8e34-c683fef959b1Fernando Pedro, diretor executivo de Gestão de Valor em Saúde da Amil. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

Uma forma de colocar isso em prática seria analisar dados que permitam antever problemas na população de risco, além de estabelecer parceria entre players. "Só assim temos modelos assistenciais para proporcionar uma vida mais saudável e sustentável para evitar doenças", conclui Pedro.

Também participou da conversa Renato Carvalho, presidente da Novartis Brasil.

2a9275ad-2e5a-4120-9c05-0a215f6619e0 David Uip, que acaba de assumir a recém-criada Secretaria. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)

O encerramento ficou por conta de David Uip, que acaba de assumir a recém-criada Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Ele comentou um pouco sobre os desafios da nova pasta, que visa promover a interligação entre diferentes atores do setor da saúde.

“Nós sabemos o que fazer. Basta fazer. E para isso, é preciso o envolvimento de todo mundo”, afirma Uip. “Se nós conseguimos trabalhar a base, aumentamos a qualidade de vida, a sobrevida do cidadão e reduzimos o custo do sistema de saúde”, finaliza o secretário.

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