Como o cérebro envelhece?

Entenda o desenvolvimento do cérebro em cada faixa etária.

Com os avanços da ciência, a o ser humano está cada vez mais consciente de seu processo de envelhecimento. (Foto: Pixabay)

Para entender este processo, precisamos entender que o desenvolvimento do cérebro começa ainda na vida intrauterina, quando a herança biológica da genética começa a construir o novo ser humano.

Sobre essa estrutura pré-programada geneticamente agem os processos de aprendizado e memória posteriormente.

A neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci, explica que o cérebro nasce com muitas células neuronais. Segundo ela, na fase infantil existe uma quantidade excessiva de sinapses (conexões entre neurônios).

Esta abundância sináptica continua até o início da adolescência, quando então começa a ser reduzida.

“Crianças e adolescentes estão em uma fase conhecida como ‘janela de oportunidades’ porque tem uma grande facilidade para aprender, o que é reflexo da maior quantidade de sinapses e fatores de crescimento moldando os circuitos neuronais. A expressão da aprendizagem depende de sinapses”, explicou.

 

Cérebro plástico e desenvolvimento

 

Dizemos que o cérebro em desenvolvimento é plástico porque reorganiza padrões e sistemas de conexões sinápticas para adequar o crescimento do organismo às novas capacidades intelectuais e comportamentais.

Quando mencionamos que a partir de um certo momento as sinapses começam a reduzir, se trata de um fenômeno normal do desenvolvimento do sistema nervoso. Esta perda neural é geneticamente programada, e junto com o aprendizado, permite o refinamento dos circuitos sinápticos, modelando o cérebro adolescente.

O cérebro da infância à adolescência

A neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci, explica ainda que o desenvolvimento comportamental vai acompanhando a maturação das células cerebrais. No adolescente por exemplo, dois aspectos do comportamento chamam bastante atenção - a impulsividade e o tédio, e ambos estão relacionados ao momento de desenvolvimento cerebral.

“Na adolescência há um aumento da atividade dos circuitos que usam o neurotransmissor dopamina (responsável pela motivação para iniciar atividades). Esse aumento faz com que os jovens sejam mais impulsivos e busquem atividades altamente estimulantes.

A resposta do corpo à essa dopamina presente nestes circuitos também é maior, explicando porque eles ficam mais entediados quando não estão em atividades estimulantes”, detalhou.

Quando os adolescentes vão se aproximando da vida adulta, por volta dos vinte e poucos anos, a maturação de outros circuitos e da área pré-frontal trazem uma melhor capacidade de autocontrole, neutralizando o comportamento impulsivo.

Quando a plasticidade começa a diminuir

As células em desenvolvimento têm maior capacidade de adaptação do que as maduras, o que faz o avanço da idade diminuir a plasticidade do cérebro que é a capacidade de mudar. Entretanto ela não deixa de existir, a aprendizagem vai exigir mais esforço para se efetivar, mas é plenamente possível. Logo, os adultos e idosos não deixam de aprender, mas perdem um pouco das vantagens naturais.

Alguns autores constatam que, no período compreendido entre os 20 e 90 anos, o córtex cerebral perde de 10% a 20 % de massa, podendo variar dependendo da parte do cérebro em até 50%. 

O que acontece quando o cérebro humano envelhece?

À medida que o cérebro envelhece, a atividade bioquímica dos neurotransmissores muda, ocorrendo diminuição no número de células nervosas, podendo variar entre perdas mínimas em uma região e prejuízos maiores em outras.

O peso do cérebro também muda no envelhecimento. Ocorre uma diminuição discreta na década dos 60 anos, com acentuação entre as décadas de 70 e 90 anos, com decréscimo de até 80% do peso. 

As transformações do tecido biológico por conta do envelhecimento são inevitáveis, mas a velocidade e a intensidade dependem diretamente do estilo de vida. 

“Por exemplo, no envelhecimento o cérebro pode sofrer muito com a hipóxia (quantidade inadequada de oxigênio). Então se a pessoa possui alterações na estrutura do sistema circulatório, doenças crônicas não controladas e inatividade física, ocorrerá o declínio na circulação sanguínea e menor oxigênio chegando ao cérebro. O exercício físico e a atividade intelectual variada é de fundamental importância para a prevenção e a redução de alguns declínios com o envelhecimento no sistema nervoso”, alertou Livia Ciacci, neurocientista do SUPERA – Ginástica para o Cérebro.

Ainda segundo a especialista, a capacidade intelectual do indivíduo idoso pode ser mantida sem dano cerebral por mais de 80 anos, mesmo que existam algumas dificuldades de aprendizagens e esquecimentos sem importância. No fim das contas, o tipo de envelhecimento será reflexo das inter-relações sociais e individuais, resultantes das educações, trabalho, experiência de vida, cuidados com a saúde e se o cérebro está se mantendo ativo. 

Neste contexto destaca-se a ginástica para o cérebro como ferramenta fundamental para a criação de reserva cognitiva e aumento da capacidade cerebral em diferentes cenários e idades.

Confira 3 mitos sobre o cérebro no processo de envelhecimento:

1)   “Inteligência é uma capacidade única” - na verdade, ela é um conjunto de muitas habilidades que se combinam.

2)   “Inteligência declina na velhice” - apenas algumas capacidades relacionadas a flexibilidade de ponto de vista e velocidade são afetadas. Todas as outras habilidades intelectuais ficam constantes ou até melhoram.

3)   “Idade é o fator mais crítico que influencia a deterioração intelectual” - Há pelo menos 7 fatores que exercem maior impacto do que a idade, sendo: Aptidão inata, nível de instrução educacional, treinamento profissional, ambiente estimulante, estado de saúde, motivação e sucesso na vida.

“Como todos esses fatores se desenrolam na vida de uma pessoa é o que levará ao resultado final da intelectualidade mantida no envelhecimento!”, concluiu a neurocientista do SUPERA.