Como cuidar da saúde mental do seu funcionário na pandemia?
Pesquisa mostra que os cuidados vão se intensificar nos próximos anos. Confira algumas iniciativas do SESI para ajudar os trabalhadores.
O Setembro Amarelo é marcado por ações que destacam os cuidados com a saúde mental. Desde o início da pandemia de Covid-19, esse tema está ainda mais em evidência. Uma recente pesquisa do Serviço Social da Indústria (SESI), por exemplo, mostra que 65% empresas acreditam que cuidados com a saúde mental dos trabalhadores vão se intensificar nos próximos anos.
Entre as grandes indústrias, 93% creem no aumento da oferta de serviços psicológicos. “A pandemia acentuou o olhar das empresas sobre a saúde mental dos funcionários, já que este fator impacta significativamente na qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, na produtividade no ambiente laboral”, destaca Katyana Aragão, gerente-executiva de Saúde e Segurança na Indústria do SESI.
O levantamento do SESI aponta que, das 46% empresas que possuem programas de promoção da saúde, 69% oferecem suporte psicológico aos trabalhadores e 24% oferecem atendimento remoto. Nas grandes empresas, o percentual das que oferecem teleatendimento vai chegar a 38%.
Neste sentido, o Tem Solução! traz alguns dos serviços disponíveis pelo SESI para incentivar as empresas a ingressarem nessa rede de apoio para os seus funcionários. Confira algumas iniciativas para cuidar da saúde mental dos trabalhadores:
Guia
Logo no início da pandemia, o SESI lançou um guia para empresas lidarem com a saúde mental dos trabalhadores nesse cenário. O documento traz recomendações para adaptar a gestão de pessoas nos seguintes contextos: trabalho presencial; home office; afastamento compulsório de trabalhadores e isolamento domiciliar de casos suspeitos ou confirmados da doença.
Entre as principais recomendações às empresas estão a construção de um plano de proteção à saúde mental aos gestores e trabalhadores e criar formas de comunicação de qualidade e eficaz com os trabalhadores.
Teleatendimento psicológico
O SESI oferece o serviço de telessaúde em medicina, enfermagem, nutrição e psicologia. A iniciativa, voltada a trabalhadores da indústria, é uma evolução do serviço de telemedicina, que funciona desde o ano passado, voltado a dar encaminhamento a casos de Covid-19. Empresas interessadas devem procurar o SESI no seu estado.
O serviço auxilia os gestores e contribui para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores. Nas consultas, feitas via plataforma SESI Viva+, os pacientes interagem com os especialistas que podem solicitar exames, prescrever medicamentos e tratamentos.
Conforme a gerente-executiva de Saúde e Segurança na Indústria do SESI, Katyana Aragão, o SESI segue uma tendência de crescimento de demanda de empresas e trabalhadores por atendimento remoto em saúde e segurança no trabalho. “A pandemia acelerou esse processo e, de forma geral, vimos que a telessaúde trouxe vantagens como agilidade, economia de recursos, efetividade na resolução dos casos e melhoria na gestão de saúde dos trabalhadores”, destaca Katyana.
Centro de Inovação em Fatores Psicossociais
O SESI conta ainda com o Centro de Inovação em Fatores Psicossociais para apoiar empresas com consultorias e iniciativas que contribuam com a saúde mental dos trabalhadores e melhoria do ambiente organizacional e do trabalho. Os serviços podem ser contratados pelas empresas e tem como objetivo de ajudar os trabalhadores a lidar com questões emocionais e conquistarem mais bem-estar, além de auxiliar as empresas na gestão de fatores psicossociais.
Após um ano do início da pandemia no Brasil, houve mudanças nas necessidades psicoemocionais dos trabalhadores. No começo, o serviço de acolhimento remoto para trabalhadores da indústria impactados pela pandemia de Covid-19 do SESI, identificou uma necessidade de adaptação, com o distanciamento social, mudanças na rotina familiar, escolar e profissional.
Segundo Letícia Lessa, gestora do Centro, isso gerou sentimentos de insegurança, medo e incerteza porque ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo e a dimensão dos impactos de uma pandemia. “Percebeu-se o aumento de sintomas de transtornos mentais como ansiedade e depressão, especialmente para quem já tinha um histórico dessas doenças”, destaca Letícia.
Consultorias e avaliações
Além de consultorias, o SESI oferece a empresas avaliação psicossocial de profissionais para trabalho em espaço confinado e altura e programas para prevenção ao uso de álcool e outras drogas, inclusão de pessoa com deficiência e melhoria do clima organizacional.
O aumento do desemprego e a diminuição de renda também impactaram na dinâmica familiar e na saúde mental, dado o aumento de preocupação decorrentes dessa situação. A preocupação com o contágio e com a situação econômica têm acompanhado boa parte dos trabalhadores desde o início da pandemia. Já o medo e o estresse, embora também sejam manifestações recorrentes, parecem se relacionar com diferentes fatores, e se mostram acentuados no momento atual.
“O suporte social, seja familiar ou no trabalho têm se mostrado um grande aliado neste momento, que mesmo a distância, é um fator de proteção para o enfrentamento das dificuldades e incertezas que inundam o dia a dia, e que reforçam o sentido da vida em cada um”, reforça Letícia.
Saúde mental dos trabalhadores torna-se prioridade para indústrias
A questão da saúde mental dos trabalhadores já estava no radar da indústria de proteína animal Vibra, que emprega 4,7 mil trabalhadores em quatro fábricas – a matriz no Rio Grande de Sul, duas plantas no Paraná e uma em São Paulo. Com a pandemia, ganhou ainda mais relevância e a empresa começou a implementar um programa específico, com apoio do SESI, para tratar o assunto.
A iniciativa possui quatro frentes de trabalho. São elas: atendimento psicológico e acolhimento de trabalhadores que enfrentam problemas como luto, estresse, burn out; educação e conscientização sobre hábitos saudáveis; preparação das equipes e líderes para lidar com fatores psicossociais; e ações complementares, como reconhecimento e valorização dos funcionários, estímulo ao lazer e outras, conforme a necessidade de cada equipe.
Segundo Lucas Scherer, analista de Recursos Humanos da Vibra, o programa está sendo bem recebido pelos trabalhadores, em conjunto com todos os protocolos de saúde para enfrentamento à Covid. “O sucesso dessa iniciativa deve-se, sobretudo, ao apoio da alta liderança, que foi envolvida a partir de dados concretos sobre afastamentos relacionados a questões psicológicas”, destaca Scherer.
Outra empresa que iniciou um programa voltado para a saúde mental dos trabalhadores na pandemia foi a Hitachi Power Grids, do setor de eletrificação, com 1,2 mil trabalhadores no Brasil. Desde junho de 2020, desenvolve o Programa Cuidar, que começou com foco na saúde mental e hoje trata a saúde integral dos indivíduos.
“Esse entendimento foi amadurecendo na empresa e percebemos que não tem como fragmentar a saúde”, destaca a gestora de saúde no trabalho da Hitachi, Danielle Speck.
O programa começou com sensibilização da alta liderança e dos gestores de forma geral e hoje, além do apoio da operadora de plano de saúde no atendimento psicológico de trabalhadores, conta com psicólogas do SESI para tratar de urgências psicológicas. Inclusive, uma delas está tratando da primeira assistência de casos de luto.
Novas frentes de atuação estão sendo planejadas com foco em atenção primária, entre as quais a estruturação de um programa para estímulo à atividade física e outra para alimentação saudável. Além disso, está com metas para desenvolvimento da resiliência entre os colaboradores.
“Ainda há muito estigma em relação à questão psicossocial, mas o fato de a empresa inserir esse aspecto em sua estratégia da saúde dos trabalhadores estimula que eles se envolvam e cuidem mais desse aspecto de suas vidas”, ressalta Danielle.