Casos de puberdade precoce aumentam na pandemia
Crianças começaram a manifestar os sinais de amadurecimento antes da hora; motivos ainda não estão claros; mas podem trazer consequências negativas.
Casos de puberdade precoce aumentam na pandemia. (Foto: Pixabay)
A antecipação da puberdade, algo que vem sendo observado há algumas décadas, ganhou força durante pandemia de Covid-19 com o aumento de casos de amadurecimento precoce. O fenômeno, que tem sido visto nos consultórios de pediatras e endocrinologistas do mundo todo, também intrigou médicos do Hospital Infantil Bambino Gesù, em Roma, que resolveram tirar a dúvida comparando os dados com o ano anterior à Covid. Resultado: os casos mais que dobraram em um ano, saltando de 118 em 2019 para 246 em 2020 na Unidade de Endocrinologia daquele serviço. Embora preliminar, o estudo italiano reforça uma impressão generalizada entre os profissionais.
Sabe-se que o início do amadurecimento sexual tem a ver com fatores genéticos e ambientais. A idade da puberdade dos pais, o desenvolvimento no período fetal e até fatores como obesidade influenciam esse momento. Nas meninas, os primeiros sinais são o surgimento do broto mamário - a bolinha embaixo da aréola - e um pequeno aumento do volume das mamas. Em cerca de 15% delas a manifestação inicial é o aparecimento de pelos pubianos.
Nos meninos, o primeiro indício é o aumento dos testículos, o que costuma ser seguido após cerca de 6 meses por crescimento do pênis e aparecimento de pelos pubianos. Considera-se precoce, ou seja, antes do momento esperado, se essas mudanças acontecem antes dos oito anos nelas e dos nove nos garotos.
Consequências ruins
A chegada dessa fase de amadurecimento antes da hora pode trazer consequências negativas para a criança, tanto físicas como psicológicas. Isso porque ela acelera o fechamento das cartilagens epifisárias, a parte do osso responsável pelo crescimento, o que restringe a estatura final daquele adolescente. A longo prazo, também pode aumentar o risco de câncer de mama, por exemplo.
“Isso sem falar das questões emocionais, pois muitas vezes a criança ainda não está preparada para lidar com essas mudanças”, diz a pediatra Debora Kalman, do Hospital Israelita Albert Einstein. Nas meninas, por exemplo, lidar com o início do período menstrual e todo o seu desconforto é um dos problemas da puberdade precoce.
Nos últimos anos, especula-se que o aumento da obesidade e a exposição a certos produtos venham acelerando esse processo. Substâncias presentes nos plásticos, como o BPA e os ftalatos, além de pesticidas, podem funcionar como disruptores do sistema endócrino, capazes de disparar mudanças hormonais.
Os cientistas ainda não sabem, porém, exatamente por que a pandemia teria acelerado ainda mais esse processo. Mas eles têm algumas pistas. Sabe-se que as crianças ganharam mais peso, ficaram mais sedentárias e mais expostas às telas. O uso de eletrônicos, além de estimular a inatividade física, também impacta o ciclo da melatonina, que também está associada a antecipação da puberdade. “Não há uma causa única, o que temos são associações, uma combinação de fatores”, diz Débora.
Os pais e responsáveis devem estar atentos às mudanças corporais dos filhos. Presença do broto mamário e aumento do volume testicular são os maiores alertas, e nestes casos vale consultar um médico. “O tratamento deve ser individualizado. É necessário avaliação global do canal do crescimento, da idade óssea, dos hormônios e da maturidade emocional, para decidir os casos em que podemos observar ou em que é preciso fazer um bloqueio hormonal para interromper esse processo”, explica a médica.
Quando indicado, o bloqueio hormonal é realizado mensalmente, com injeções intramusculares, e o tratamento deve ser acompanhado por um endocrinologista pediátrico para avaliar a resposta e o tempo de tratamento.
Fonte: Agência Einstein