Adolescentes do sexo masculino vão três vezes menos ao médico
Fatores culturais afastam meninos das consultas com um especialista e aumentam o risco de doenças no início da vida sexual.
Dados do Ministério da Saúde obtidos pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostram que meninos procuram menos o médico. Em 2020, o acesso dos jovens do sexo masculino entre 16 e 19 anos ao Sistema Único de Saúde (SUS) foi três vezes menor, em comparação com as meninas. Foram 2,1 milhões de garotos atendidos no ano passado na rede pública, ante 6,9 milhões de garotas.
Entre outros motivos, o número preocupa os médicos porque, nessa faixa etária, os jovens deveriam iniciar um acompanhamento especializado para ter mais acesso a informações sobre infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), gravidez precoce, doenças que afetam a fertilidade etc.
De acordo com a SBU, essa diferença entre os gêneros na busca por consultas de rotina se deve, principalmente, a fatores culturais. “Uma das principais explicações é o preconceito de considerar o sexo masculino como mais forte e de erroneamente assumir a existência da autossuficiência no cuidado da própria saúde do adolescente masculino”, explica Daniel Suslik Zylbersztejn, urologista e titular da entidade.
Esse preconceito faz o jovem crescer buscando informações sobre saúde somente com amigos ou na internet, e não com um profissional médico habilitado. “Não ir ao médico de forma regular dificulta a aquisição do hábito de saúde”, destaca o médico, que também é idealizador e coordenador da Campanha de Conscientização da Saúde do Adolescente Masculino #VemProUro.
Segundo ele, muitos homens só começam a ir ao médico com frequência por volta dos 45 anos, para acompanharem a saúde da próstata mais de perto.
Vacinação contra HPV também é menor entre meninos
Uma pesquisa realizada pela SBU constatou que 44% dos adolescentes não usaram preservativo na primeira relação sexual e que 35% dos entrevistados só se protegem raramente ou nunca.
Os adolescentes do sexo masculino também aderiram menos à vacinação contra o HPV, vírus associado à ocorrência de diversos tumores genitais. O imunizante é oferecido no SUS para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14.
Os números atualizados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações referentes ao período de 2013 a 2020 mostram que a média nacional de cobertura vacinal para segunda dose do HPV é de 65,8% para a população feminina e 35,6% para a masculina.
De acordo com Bruno Cezarino, urologista e médico assistente do Setor de Urologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), a baixa adesão está relacionada à falta de informação.
“A vacina do HPV, especialmente quando tomada antes do primeiro contato sexual, é muito eficaz contra os subtipos virais mais prevalentes na população e os relacionados ao câncer. Ela reduz em grande parte o risco de tumores de pênis e colo do útero”, alerta o médico.
Principais ISTs entre os jovens
A pesquisa destacou ainda que as infecções sexualmente transmissíveis mais comuns na adolescência são sífilis, herpes simples, cancro mole, HPV, linfogranuloma venéreo, gonorreia, tricomoníase, hepatites B e C e HIV.
A SBU também destacou a expansão entre jovens do número de infecções pelo vírus aids, que apresentou um aumento de 64,9% na faixa etária de 15 a 19 anos de 2009 a 2019. Isso de acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids do Ministério da Saúde de 2020.
(Fonte: Agência Einstein)