Trump critica tarifas altas e ameaça reaver controle do canal do Panamá

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, criticou, em publicações na sua rede social Truth Social e em discurso, as tarifas excessivas cobradas pelo Panamá para o uso do Canal do Panamá, que permite aos navios atravessarem entre os oceanos Pacífico e Atlântico. O país da América Central repudiou as ameaças.

Trump classificou os valores como "ridículos" e afirmou que o canal, considerado estratégico para o comércio e a segurança nacional dos EUA, não deveria beneficiar outros países, mencionando indiretamente a China.

"O Canal do Panamá é considerado um ativo nacional vital para os EUA, devido ao seu papel crucial para a economia e segurança nacional. Ele foi dado ao Panamá para administração, não para outros países, e certamente não para impor tarifas exorbitantes aos EUA, sua Marinha e suas empresas", escreveu Trump.

O republicano afirmou que os EUA têm o direito de exigir a devolução do controle da hidrovia, caso não sejam garantidas operações consideradas justas e eficientes.

"Se os princípios, tanto morais quanto legais, deste gesto magnânimo de doação não forem respeitados, exigiremos que o Canal do Panamá nos seja devolvido, integralmente e sem questionamentos", publicou o magnata, a pouco menos de um mês do início de seu segundo mandato como presidente dos EUA. "Esse completo roubo do nosso país vai parar imediatamente", disse. Não está claro como ele poderia tentar reaver o controle do canal - ele não teria nenhum amparo da lei internacional.

Falando a uma multidão de apoiadores no Arizona neste domingo, 22, Trump voltou a dizer que não deixaria o canal cair em "mãos erradas", alertando sobre uma possível influência chinesa na passagem.

A China não controla ou administra o canal, mas uma subsidiária da CK Hutchison Holdings, com sede em Hong Kong, gerencia dois portos localizados nas entradas do Caribe e do Pacífico para o canal, segundo a agência Reuters.

Reação

O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, repudiou as ameaças. "O canal não tem controle direto ou indireto nem da China, nem da Comunidade Europeia, nem dos EUA ou de qualquer outra potência", afirmou Mulino em um vídeo em sua conta no X sem mencionar explicitamente Trump. "A soberania e independência de nosso país não são negociáveis", acrescentou Mulino, ponderando que espera ter uma relação boa e respeitosa com o futuro governo americano.

O canal, construído pelos EUA no início do século 20, foi transferido ao controle do Panamá em 1999, como parte de um acordo bilateral. Atualmente, ele é utilizado para o transporte de aproximadamente 5% do comércio marítimo global, com a passagem de cerca de 14 mil navios por ano - EUA e China são os maiores usuários da hidrovia.

Os comentários de Trump são um exemplo extremamente raro de um líder dos EUA dizendo que poderia pressionar um país soberano a ceder território, mas não a primeira vez que o republicano considera abertamente uma expansão territorial. Na última semana, ele afirmou que os canadenses poderiam querer que seu país se tornasse o 51.º Estado dos EUA e provocou o primeiro-ministro Justin Trudeau como "governador Trudeau".

Durante seu primeiro mandato, Trump expressou interesse em comprar a Groenlândia, um território autônomo da Dinamarca.

A opinião do republicano com relação ao Panamá destaca uma mudança esperada na diplomacia dos EUA com o início de seu governo, especialmente em relação à China e à segurança europeia. Na sexta-feira, 20, o Financial Times relatou que a equipe de Trump havia informado a autoridades europeias que ele exigirá que os Estados membros da Otan aumentem seus gastos com defesa para 5% de seu PIB. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.