Terra está girando mais rápido e pode impactar equipamentos tecnológicos
Especialista explica que, mesmo imperceptível no cotidiano, a variação de milissegundos na rotação da Terra pode impactar tecnologias como GPS e missões espaciais.
Terra deve girar ligeiramente mais rápido do que o normal durante o mês de agosto. (Foto: Freepik)
Entre os meses de julho e agosto, a Terra deve girar ligeiramente mais rápido do que o normal. Apesar de parecer imperceptível, essa aceleração tem sido registrada com precisão por cientistas. No dia 9 de julho, por exemplo, o planeta girou 1,3 milissegundo mais rápido, e a previsão para 5 de agosto é de um dia 1,52 milissegundo mais curto. Para se ter uma ideia, em 1,5 milissegundo uma fibra óptica pode transmitir dados por 300 quilômetros, ou uma bala de fuzil AK-47 percorre um metro.
Historicamente, a Terra tem desacelerado sua rotação devido à influência gravitacional da Lua, que se afasta do planeta a uma taxa de 3,8 centímetros por ano. Essa desaceleração natural torna os dias gradualmente mais longos — cerca de 2,4 milissegundos por século. No entanto, desde 2020, cientistas vêm registrando justamente o oposto: dias mais curtos, resultado de uma aceleração pontual no giro do planeta.
Por que isso está acontecendo?
De acordo com o geofísico Eder Molina, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, a posição da Lua é uma das principais responsáveis por essa aceleração momentânea. “Quando seu efeito gravitacional incide mais sobre os polos do que sobre o Equador, a massa da Terra se redistribui mais próxima ao eixo de rotação, o que acelera o giro do planeta. Fenômenos atmosféricos como o El Niño, e alterações no núcleo e no manto terrestre também contribuem para essas variações”, explica.
Por outro lado, há fatores que desaceleram a rotação terrestre, como a extração excessiva de água subterrânea, o derretimento de geleiras e eventos extremos — o terremoto de 2011 no Japão, por exemplo, encurtou o dia em 1,8 microssegundo ao deslocar a ilha principal do país em 2,4 metros. Embora as mudanças pareçam ínfimas, elas são cruciais para a ciência e a tecnologia: sistemas como o GPS ou o pouso de espaçonaves podem ser seriamente afetados por erros de milissegundos. Para Molina, esses dados são também um lembrete poético: “Se até a Terra tem pressa, vale aproveitar cada milissegundo para fazer o bem — um sorriso leva 200 milissegundos; um olhar gentil, até 700”.