Israel abre fogo durante entrega de comida; Hamas diz que 27 morreram
Soldados israelenses abriram fogo nesta terça-feira, 3, contra uma multidão durante a entrega de comida na Faixa de Gaza. Segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, 27 pessoas morreram, incluindo 3 crianças e 2 mulheres. Foi o segundo incidente do tipo em três dias. Israel admitiu ter disparado, mas garantiu que atirou em palestinos que avançaram contra suas tropas.
O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmoud Bassal, acusou Israel de usar artilharia. "As forças israelenses também abriram fogo com tanques e drones contra milhares de civis que se reuniram na área de Al-Mawasi", disse - o local é o mesmo onde 23 palestinos morreram por disparos do exército de Israel, no domingo, 1º.
O chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, descreveu o ataque "como um crime de guerra". "Ataques mortais contra civis que tentam acessar ajuda alimentar são inaceitáveis", afirmou. "Eles são uma grave violação da lei internacional e um crime de guerra."
Mohamed Saqr, chefe de enfermagem do hospital Nasser, disse ter recebido 27 corpos, a maior parte com ferimentos de bala na cabeça e no tórax. "Alguns apresentavam ainda estilhaços pelo corpo, o que indicaria que eles foram alvos de tanques ou munições de artilharia."
Justificativa
Em comunicado, o exército de Israel admitiu os disparos contra "suspeitos". "Foram tiros de advertência. Como eles não se afastaram, os disparos adicionais foram feitos perto dos indivíduos que estavam avançando em direção às tropas de forma ameaçadora", diz o texto, que não especifica quem eram os suspeitos ou como eles ameaçavam soldados armados.
O general Effie Defrin, porta-voz do exército israelense, sugeriu que o número de vítimas havia sido inflado pelo Hamas. Ele se recusou a dizer quantas pessoas haviam sido mortas. "Houve tiros de advertência. Até onde sabemos, não há tantos feridos assim", disse.
As mortes de ontem representam mais um golpe contra a imagem da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma organização americana apoiada por Israel, que enfrenta críticas desde que iniciou suas operações, na semana passada. A GHF confirmou que "vários civis foram feridos e mortos" após se desviarem de um "corredor seguro" no local de distribuição.
Israel alega que o novo sistema de distribuição de ajuda é necessário para evitar que o Hamas roube e armazene alimentos, além de financiar seu esforço de guerra vendendo comida para civis a preços elevados. As autoridades da ONU afirmam que não há evidências de que a ajuda internacional seja desviada pelo grupo terrorista.
Boicote
A atuação da GHF tem sido caótica. Seu CEO, Jake Wood, pediu demissão horas antes do início das operações. Ele disse que o grupo não seria capaz de operar de forma independente. A consultoria Boston Consulting Group também se afastou da organização.
A ONU boicotou o trabalho da GHF, afirmando que ele coloca em risco os civis palestinos ao forçá-los a caminhar quilômetros para obter comida em uma rota que ultrapassa a linha de frente israelense. Outra crítica é que os pontos de distribuição de Israel, todos no sul do território, facilitariam o plano israelense para deslocar a população do norte de Gaza.
Agências de ajuda humanitária dizem haver risco de que a fome se generalize em Gaza após o bloqueio de 80 dias de Israel. Nos últimos dias, multidões de palestinos famintos têm chegado cedo aos locais de distribuição na esperança de receber um pouco de comida. Eles relataram caminhadas aterrorizantes na madrugada, seguidas de brigas violentas por qualquer caixa de alimento. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.