IA acelera demissões no marketing, mas abre espaço para novas funções criativas
Especialista comenta sobre o cenário do uso de IA no setor de comunicação.
Eduarda Camargo, Chief Growth Officer da Portão 3 (P3).(Foto: Divulgação)
O avanço acelerado da inteligência artificial (IA) está remodelando o setor publicitário, desafiando antigos modelos de trabalho e gerando uma tensão entre entusiasmo e insegurança. Se, por um lado, a tecnologia inaugura novas possibilidades criativas e operacionais, por outro, impõe uma ameaça real a empregos tradicionais — principalmente os centrados em tarefas repetitivas e automatizáveis.
Projeções da Forrester indicam que, até 2030, aproximadamente 7,5% dos cargos em agências poderão ser eliminados — uma estimativa que ganhou ainda mais força após declarações do CEO da OpenAI, Sam Altman, sobre o potencial de substituição de até 95% das funções de marketing.
Redação, design, mídia, atendimento e até planejamento, podem estar na reta. Em vez de equipes numerosas, as empresas começam a operar com estruturas mais enxutas, formadas por profissionais híbridos que orquestram fluxos com IA.
“Não é mais sobre quem domina Photoshop ou faz um bom texto. O mercado quer quem entende prompt, analisa jornada, mede resultado. O resto, a IA resolve”, avalia Eduarda Camargo, Chief Growth Officer da Portão 3 (P3).
Apesar do clima de incerteza, o processo de automatização também abre espaço para uma reconfiguração positiva do trabalho. Agências como a Monks e empresas como Duolingo e Spotify já adotam políticas de contratação com foco na não automatização das funções, priorizando talentos capazes de atuar em áreas onde a IA ainda não substitui o julgamento humano. Segundo a Gartner, os profissionais que se adaptarem rapidamente às ferramentas emergentes terão vantagem competitiva no redesenho das equipes e serão peças-chave na formação de novos talentos.
O setor começa a buscar perfis mais versáteis, com domínio técnico em áreas específicas e capacidade de dialogar com outras frentes — semelhante à lógica dos engenheiros full-stack. Novos cargos estão sendo criados, como o de “arquiteto de personalidade”, responsável por dar consistência a agentes autônomos de IA. A agência 10KR, por exemplo, já opera com uma diretora criativa digital, alimentada por um banco de campanhas premiadas, mostrando como a criatividade humana e a tecnologia podem se complementar.
Nesse cenário de transformação, a IA não elimina a criatividade — mas obriga o setor a pensar estrategicamente sobre onde ela deve ser aplicada. O foco agora está na reinvenção: substituir tarefas operacionais por atividades de maior valor agregado, estimular o pensamento crítico e fomentar a colaboração entre humanos e máquinas. O futuro do mercado publicitário, portanto, não será apenas tecnológico — será também profundamente humano, centrado na capacidade de adaptação, aprendizado e inovação.