Juliana Trece: 'Eventual elevação da taxa de juros tende a comprometer mais o investimento que o consumo'
Monitor do PIB do FGV IBRE indicou resultado positivo para os investimentos no segundo trimestre do ano.
Juliana Trece, coordenadora da pesquisa do FGV IBRE. (Foto: Divulgação/FGV IBRE)
O Monitor do PIB do FGV IBRE indicou resultado positivo para os investimentos no segundo trimestre do ano: alta de 3,3% em relação ao primeiro trimestre, e de 7,3% em relação ao mesmo período de 2023, com destaque para máquinas e equipamentos, que representou 5,5 pontos percentuais desse aumento. Juliana Trece, coordenadora da pesquisa, lembra que expansão de investimentos é sinal de aumento da capacidade produtiva, contribuindo para o crescimento futuro.
Mas também destaca que esse resultado acontece sobre uma base reprimida, considerando que em 2023 o investimento em máquinas e equipamentos foi negativo na maior parte do ano. Levando em conta a medida por trimestre móvel interanual, foram 10 resultados negativos em 2023, sendo o mais expressivo em novembro, quando contribuiu com -5,9 pontos percentuais para uma queda de 5,8% do investimento total. Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais, afirma que os produtos importados contribuíram em maior medida para a alta do investimento na rubrica de máquinas e equipamentos, na qual se destacam automóveis.
“Há também a compra de uma plataforma de petróleo pela Petrobras, dado que recebe o devido tratamento no cálculo dos investimentos”, afirma Considera. No agregado, o Monitor registro aumento da importação de 16,3% no segundo trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2023, maior resultado desde o trimestre fechado em outubro de 2021, para uma alta de 6,4% das exportações.
O papel das importações de bens de capital é identificado no Icomex do FGV IBRE, que em julho identificou a manutenção de uma tendência de expansão registrada no primeiro semestre. No acumulado até julho, a indústria de transformação registra alta de 19,4% nas compras externas em volume em relação aos primeiros sete meses de 2023, enquanto a agropecuária mostra queda de 9,1%. Na comparação mensal, entretanto, ambos os setores registram alta de, respectivamente, 36,9% e 49,2%.
Observando a atividade brasileira ainda pelo lado da demanda, o Monitor aponta continuidade da dinâmica de crescimento do consumo das famílias, com aumento de 5,3% do segundo trimestre na comparação interanual, graças ao bom desempenho dos segmentos de não-duráveis, duráveis e dos serviços. No trimestre fechado em junho, especialmente os bens duráveis ganhou em participação no total do crescimento – reflexo, aponta Juliana Trece, do bom momento do mercado de trabalho e da evolução da massa salarial. A economista lembra, entretanto, que o cenário dos juros pode influenciar a evolução desse segmento, posto que é um consumo dependente de crédito, por em geral envolver produtos de maior valor e parcelamento na compra.
No agregado, entretanto, ela afirma que a trajetória do consumo das famílias no geral não tenderá a ser afetada sob um cenário de alta da Selic. “Considero que uma eventual elevação da taxa de juros tende a comprometer mais o investimento que o consumo, posto que há outros segmentos que são menos sensíveis à mudança dos juros”, diz.
O Monitor do PIB apontou um crescimento de 1,1% da atividade no segundo trimestre em comparação ao primeiro. “Muitos economistas imaginavam um resultado mais fraco por conta do impacto das enchentes no Rio Grande do Sul, mas que não se mostrou da forma como previsto.”