IA exige olhar para as transformações que serão viabilizadas pela tecnologia
Para Luiz Sérgio Vieira, CEO da EY no Brasil, o mercado está diante de uma mudança enorme por causa das inúmeras possibilidades trazidas pela inteligência artificial.
Para Luiz Sérgio Vieira, CEO da EY no Brasil, o mercado está diante de uma mudança enorme por causa das inúmeras possibilidades trazidas pela inteligência artificial. (Foto: Agência EY)
Prioridade número um dos CEOs nos próximos 12 meses, o investimento em tecnologia, incluindo inteligência artificial, tem sido feito com o objetivo de elevar a produtividade e aumentar o crescimento das organizações, conforme demonstrou a edição mais recente do estudo trimestral realizado pela EY com esses executivos. “O mercado está diante de uma mudança enorme, que é resultado de uma confluência de fatores, como aumento de capacidade computacional, bancos de dados maiores e novas abordagens de treinamento de modelos, que aceleraram a evolução da IA. Por parte da EY, a primeira perspectiva e talvez mais relevante neste momento é como podemos usar a IA para ajudar nossos clientes nas suas transformações. Além da questão de criação de produtos por meio da IA, estamos falando da alteração do negócio como um todo por causa das inúmeras possibilidades trazidas por essa tecnologia”, diz Luiz Sérgio Vieira, CEO da EY no Brasil.
Leia abaixo a entrevista na íntegra.
1) Quais são as perspectivas para os próximos anos em relação à IA?
LUIZ: Os estudos que realizamos e nossas percepções em relação aos clientes indicam um momento único. Isso porque o mercado está diante de uma mudança enorme, que é resultado de uma confluência de fatores, como aumento de capacidade computacional, bancos de dados maiores e novas abordagens de treinamento de modelos, que aceleraram a evolução da IA. O papel da EY é auxiliar seus clientes em toda essa jornada desde o início, em perguntas como “onde vou usar” e “como vou usar”, passando pela formulação estratégica e exploração de casos de uso, até implementação operacional e gestão.
Toda essa jornada é trabalhada em uma abordagem que combina o equilíbrio do impulso à inovação com a preocupação de aplicações responsáveis e éticas, por meio de uma governança robusta. Além da questão de ganho de produtividade e da criação de produtos por meio da IA, estamos falando da alteração do negócio como um todo por causa das inúmeras possibilidades trazidas por essa tecnologia.
Ao mesmo tempo, estamos igualmente dedicados a usar internamente a IA para esses mesmos propósitos, como desenvolvimento de novos produtos e modelos de negócio, melhorando nossos processos e tornando-os mais eficientes. Temos olhado muito para IA no sentido de nos tornarmos uma organização muito mais ágil, o que, no fim do dia, também vai trazer impacto positivo para nossos clientes.
Por fim, há o uso da IA para resolver os desafios da sociedade porque, assim como todas as outras empresas, temos papel social muito relevante e precisamos fazer parte dessa construção de um país melhor. Isso vale para os diferentes aspectos de sustentabilidade, para o clima, para o combate à fome, entre outras questões. A pergunta que devemos fazer é como transformar de forma positiva nosso mundo por meio da IA.
2) A IA se aplica, portanto, a todas as áreas de negócio, com oportunidades para a organização inteira. Esse deve ser o raciocínio?
LUIZ: Sim, esse é um grande diferencial da IA em relação a algumas outras tecnologias. Há muitas de aplicação específica, como constatamos nos últimos anos. A IA é diferente porque sua aplicação é de propósito geral, atingindo todas as áreas do negócio. Posso usar a IA em tudo, inclusive em auditoria. Esse é o grande desafio, o de mostrar para nossas pessoas que não há uma área mais protegida ou afastada dos impactos que a IA vai causar. É claro que algumas áreas são mais reguladas, como a de auditoria, do que outras, exigindo cuidado maior, motivo pelo qual a governança é tão relevante em todas as etapas.
Aqui na EY, consideramos que todas as áreas da empresa serão impactadas pela IA. Em algumas, haverá um impacto mais imediato, como é o caso de Tax, razão pela qual já temos trabalhado com alguns modelos de negócio alinhados com SaaS (Software as a Service). O motor de IA nesse caso é muito interessante, já que Tax trabalha com muitos dados, que podem ser parametrizados, além da automação aplicada ao dia a dia dos profissionais. Outras áreas que já estão sofrendo forte influência da IA são data analytics, cyber, que tem usado as ferramentas de IA para tornar mais eficaz o combate às ameaças cibernéticas, e desenvolvimento de plataformas e sistemas. Temos olhado e trabalhado, portanto, com todas as áreas de negócio para entender como a EY pode transformar os clientes e ser transformada por meio da inteligência artificial.
Além disso, consideramos a IA uma potencializadora das capacidades dos nossos profissionais, aumentando o impacto da contribuição deles, não só por trazer ganho de produtividade, mas também por permitir criar trabalhos mais criativos e sofisticados. A transformação que a IA pode trazer passa pelas pessoas. O real valor da IA só vai se confirmar com o letramento e a capacitação dos colaboradores no sentido de tirar o melhor proveito dessa tecnologia.
3) Quais são os setores econômicos de maior potencial para uso da IA?
LUIZ: Como a tecnologia é de aplicação geral, conforme comentei na resposta anterior, essa abrangência também se aplica aos setores econômicos. Há, no entanto, diferentes níveis de maturidade e de avanço tecnológico, mas todos eles, de acordo com sua jornada de maturidade, usarão IA. O setor financeiro é um dos que se destacam nessa utilização, ainda que, a exemplo dos outros, buscando a melhor forma de fazer isso.
No nosso laboratório de inovação EY wavespace, trazemos os clientes em experiências imersivas com profissionais de diferentes competências e áreas do negócio para explorar a aplicação da IA em todo seu potencial. No agronegócio, por exemplo, a IA generativa já está sendo usada de forma integrada com robôs, drones e realidade aumentada, resultando em maior produtividade no campo. É a combinação dessas tecnologias que vai contribuir para transformações bem-sucedidas.
Ainda nesses encontros, temos mostrado cases desenvolvidos em outros países para que possam servir de inspiração ou ser reproduzidos no Brasil. Há cases específicos, como o uso da IA generativa para fazer manutenção preventiva em indústria química, e outros transversais, que podem, portanto, ser aplicados em diferentes indústrias. No Brasil, o que temos visto é o uso cada vez maior pelas organizações da IA generativa por meio de assistentes virtuais no atendimento aos seus colaboradores em áreas como RH e Finanças.
No último ano, vimos inúmeras empresas experimentando, avaliando e constatando o poder da IA generativa. Neste momento, estamos ajudando nossos clientes a definir o melhor caminho para adoção em larga escala. Essa transformação não passa apenas por tecnologia, mas também por pessoas, cultura, conformidade, questões éticas e segurança. Esses são os pilares do processo de transformação.
4) O Brasil está preparado para aproveitar todo o potencial da IA?
LUIZ: Um dos maiores desafios do Brasil é capacitar profissionais para lidar com IA. Há países como a China com sistema educacional que investe de forma mais intensa não só na carreira de STEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) como na habilitação e no treinamento para atuar nessas profissões. O Brasil, para não ficar para trás, precisa capacitar e treinar as pessoas. Temos algumas ilhas de excelência, mas, em termos gerais, o país precisa fazer mais, e isso envolve o acesso mais rápido às tecnologias, bem como a questão do custo e do treinamento dos profissionais.
É importante também conectar a inovação tecnológica com a busca por alto impacto econômico, trazendo essa agenda para as organizações. As empresas precisam se tornar protagonistas dessa transformação radical, já que a IA abre uma janela de oportunidades apenas comparável a revoluções tecnológicas anteriores, como a eletricidade e a internet.