Sob novo comando, Petrobras tenta agora definir rumos para o futuro
O conselho da empresa, agora dirigida por Magda Chambriard, divide-se entre a ampliação da exploração de petróleo e investimentos voltados para o mercado de energias renováveis.
A ampliação de investimentos em energia renovável é um dos questionamentos sobre o futuro da companhia. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
A troca de presidente da Petrobras foi frequentemente comentada durante esta semana. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tomou a decisão de substituir Jean Paul Prattes por Magda Chambriard. Entretanto, um tema pouco discutido é o futuro da Petrobras.
No concílio da empresa, há quem defenda que ela deva ampliar a sua atuação e realizar investimentos nos setores da energia renovável. Por outro lado, há conselheiros que consideram que a Petrobras deva se concentrar apenas na exploração de gás e petróleo.
O professor Pedro Luiz Côrtes, titular da Escola de Comunicações e Artes e do Instituto de Energia e Ambiente da USP, aprofunda o tema. Explica que é possível que a Petrobras atue nas duas frentes: tanto no desenvolvimento de tecnologias para novos modais energéticos quanto na extração de petróleo e gás natural.
“Algumas empresas de petróleo no exterior vêm fazendo isso, vêm procurando desenvolver novas atividades na área de energia renovável. Isso porque as reservas medidas atualmente dão conta de durar aproximadamente 40 anos, o que, para esse mercado, é um tempo muito curto.”
Recentemente, as reservas da Petrobras foram avaliadas, e se constatou que sua duração pode chegar a 18 anos.
“Parece muito tempo, mas, para uma empresa de mineração, é bom lembrar que petróleo é um bem mineral, isso é muito pouco tempo. As grandes empresas do ramo trabalham com décadas de reservas, de 30 a 40 anos. Os investimentos são muito significativos e você leva um tempo grande para amortizar e começar a obter o retorno sobre o capital investido; 18 anos é um período curto para essa lógica. Então, há quem defenda, dentro do conselho, que ela deve investir em energias renováveis, como energia eólica, solar, enfim. Entende-se que a Petrobras deve se transformar em uma empresa de energia explorando várias possibilidades, não só petróleo e gás”, aprofunda.
O docente afirma que há uma avaliação por parte de alguns conselheiros de que esse caminho de energias renováveis tem um custo elevado, seguindo o padrão Petrobras.
“A empresa segue uma série de normas e procedimentos de alta segurança exatamente porque a exploração do petróleo e gás requer uma cultura que dê prioridade ao assunto.
Há uma tendência natural de transferência desses padrões para o segmento de energias renováveis. No entanto, o novo segmento não demanda o mesmo nível de segurança que uma empresa de petróleo e gás. Então, naturalmente, a Petrobras teria custos mais elevados que o necessário, caso não houvesse uma mudança de cultura.
Outro fator é que o retorno do setor de energias renováveis é baixo comparativamente ao da exploração do petróleo. Hoje, explorando o petróleo, tem-se um retorno muito significativo, que coloca a empresa em um grande patamar internacional. Com energias renováveis, o retorno é bom, mas não é no mesmo padrão com o qual ela está acostumada.”
Política de preços
Sobre a política de preços para combustíveis em mercado doméstico praticada pela empresa brasileira, Côrtes explica que a nova gestora da empresa, Magda Chambriard, terá que lidar com um dilema complicado.
“Uma questão que é muito pouco lembrada nas análises é que, arredondando os números, a Petrobras abastece 75% do mercado de gasolina e 75% do mercado de diesel. Se os preços dos combustíveis fossem muito reduzidos, a medida inviabilizaria a atuação de importadores independentes que abastecem o restante do mercado. Os fornecedores internacionais não conseguiriam competir com o preço da Petrobras e poderiam optar por sair do mercado, isso geraria um desabastecimento de 25% no mercado. Com isso, a tendência natural de um produto que tem alta demanda e a oferta não consegue atender essa demanda é que o preço suba. Então, a medida poderia surtir um efeito diferente daquilo que ela pretende”, elucida.
“Me parece que ela tem uma estratégia de tentar ser totalmente autônoma em relação à distribuição do diesel, distribuir 100% do diesel consumido no País, o que é uma visão voltada exatamente para a prática dessa política energética, porque o diesel é o combustível principal utilizado no transporte de bens e produtos no Brasil. Então, ela teria um maior controle sobre isso e poderia subsidiar o setor para diminuir os preços.” O professor finaliza falando sobre medidas alternativas que já foram testadas em outros países.
“Poderíamos, por exemplo, com uma alíquota maior ou menor, de acordo com o preço internacional, tentar contrabalançar os custos. Isso é praticado em alguns países na Europa.”