Silvia Penna, da Uber: 'Nos próximos anos, queremos que o aplicativo seja o principal para mobilidade'
Líder no Brasil do app afirma que a Uber quer ir além dos carros para atender outros nichos de mercado. E chama atenção para a descarbonização: nos últimos 12 meses houve aumento de 132% no número de elétricos fazendo viagens.
Silvia Penna, diretora-geral da Uber no Brasil. (Foto: Divulgação)
A Uber está prestes a completar uma década de operação no Brasil. São 30 milhões de usuário e R$ 36 bilhões movimentados na economia (0,4% do PIB) em apenas um ano. O aplicativo revolucionou o mercado e consolidou um novo ecossistema para mobilidade e logística.
Nesta entrevista exclusiva, Silvia Penna, diretora-geral da Uber no Brasil, afirma que São Paulo e Rio de Janeiro disputam entre as capitais do mundo com mais corridas no app. A executiva fala, ainda, do plano de descarbonização até 2040 e constata aumento de elétricos.
É fato que a Uber revolucionou a mobilidade mundial. No Brasil, desde 2014, de que maneira a empresa impactou a vida do usuário (cliente) e do profissional (motorista) de transporte nesses quase 10 anos?
Sim, de fato, a Uber provocou uma grande transformação na mobilidade urbana, não só das grandes metrópoles, mas também em cidades médias e pequenas - a ponto de fazer muitas pessoas repensarem a necessidade de se ter um carro - o que era impossível em uma cidade como São Paulo, por exemplo. Hoje, mais de 30 milhões de pessoas usam o aplicativo da Uber no Brasil.
Ao mesmo tempo, a chegada da Uber também representou uma nova opção para geração de renda, de maneira acessível, simples, disponível para todas as pessoas, sem limitações de idade, de região do país, ou de gênero, por exemplo. Diversos estudos apontam que a chegada da Uber criou um novo ecossistema no Brasil, com impactos tanto na mobilidade das cidades quanto no mercado de trabalho. Atualmente já são mais de 1 milhão de pessoas hoje que contam com a Uber para levar sustento para casa, para juntar um dinheiro extra seja para realizar um sonho, ou mesmo para conseguir se organizar e ter um respiro financeiro.
E, nos próximos anos, queremos que a Uber seja o aplicativo principal para mobilidade: para planejar toda a viagem (incluindo transporte público, com essa opção já disponível em SP), para logística (com Uber Freight) e até para fazer uma compra sem precisar sair de casa. Nossa proposta é ir muito além de carros e usar nossa tecnologia para entregar ao usuário a escolha que for mais conveniente: conforto, tempo, custo ou forma de pagamento. A interface do aplicativo da Uber já integra os produtos existentes e exibe ao usuário na tela inicial solicitações de viagem e pedidos de supermercado lado a lado com outras opções, para que ele possa escolher o que quiser.
Em volume financeiro, qual o balanço da operação da Uber no Brasil e de que maneira o aplicativo impacta a economia? Se formos comparar com outros países, como o Brasil se posiciona?
O Brasil tem posição extremamente relevante para a Uber, com Rio de Janeiro e São Paulo figurando constantemente entre as cidades com maior número de viagens no mundo.
Publicamos ano passado um Relatório de Impacto da Uber no Brasil, que pela primeira vez trouxe uma estimativa desse impacto da empresa na economia. Segundo o estudo, foram R$ 36 bilhões gerados para a economia do país somente no ano de 2021, o que representou 0,4% do PIB nacional. Só no Brasil, cerca de R$ 76 bilhões foram repassados aos parceiros de 2014 a 2021, e R$ 4,9 bilhões foram pagos em impostos federais e municipais.
A eletrificação tornou-se uma pauta prioritária na indústria automotiva. Como a Uber no Brasil – e no mundo - está trabalhando para encontrar soluções a curto e médio prazos nesse sentido?
Nós temos como meta zerar todas as emissões da plataforma da Uber até 2040 e, para alcançar esse objetivo, precisamos desde já começar a fomentar iniciativas que promovam a chamada energia limpa e que tragam mais carros elétricos para a nossa plataforma. Globalmente, já são mais de 60 mil motoristas parceiros fazendo viagens com elétricos. No Brasil, somos a plataforma que tem o maior número de veículos elétricos cadastrados, sejam eles de propriedade dos motoristas parceiros ou alugados. É claro, existe muito espaço para crescer ainda mais. Por isso, estamos fazendo constantemente diferentes parcerias e estudos com empresas de diversos segmentos, como locadoras de veículos, montadoras e redes de carregamento, para fomentar o acesso a carros elétricos para os motoristas parceiros de forma economicamente viável, promovendo um ambiente ideal para que eles possam aproveitar os benefícios de trabalhar com esse tipo de veículo.
Nos últimos 12 meses percebemos um aumento considerável de 132% no número de elétricos fazendo viagens, que é também um reflexo da chegada de novos modelos desse tipo de veículo no país. De qualquer forma, queremos que essa ampliação na base de carros elétricos aconteça de forma sustentável, porque entendemos que para os motoristas de aplicativo, a equação é complexa: é fundamental que, além de os custos para aquisição ou aluguel de veículos elétricos sejam financeiramente viáveis, cada vez mais as cidades precisam proporcionar uma infraestrutura adequada para que eles possam dirigir os carros do futuro pelas ruas de todo o país.
Dentre as diferentes iniciativas que estamos fazendo, nos últimos meses iniciamos um projeto em parceria com uma locadora de veículos que oferece carros elétricos exclusivamente para motoristas mulheres a preços bastante competitivos. A nossa ideia é que mais mulheres conheçam esse tipo de automóvel e que gerem ainda mais renda com eles.
O que percebemos na prática é que, mesmo com os custos iniciais mais altos para comprar ou alugar um carro elétrico, aqueles que optam por essa tecnologia têm uma economia maior se comparado com veículos equivalentes movidos a gasolina, por exemplo. Diferentemente de um usuário de carro elétrico que eventualmente utiliza o carro para ir ou voltar do trabalho, um motorista de aplicativo utiliza muito mais o veículo e tem um impacto muito maior nos custos com combustível. Nas nossas análises, um motorista que opta por alugar um elétrico tem uma economia de mais de 30% por mês, já que os custos com combustíveis não existem.
No Brasil de hoje, há segurança jurídica para a Uber manter plena operação por todas as cidades do país? Como você vê cases de sucesso pelo mundo, onde a legislação assegurou a atividade dos apps.
A Lei Federal de 2018 regulamentou a atividade - serviço de transporte remunerado privado individual de passageiros - no Brasil em âmbito nacional. De modo geral, as regulamentações modernas favorecem ambientes de inovação, fomentam o uso da tecnologia e podem avançar rapidamente quando trazem benefício real para as pessoas, como é o caso da Uber.
Como líder mulher, é de amplo conhecimento que você estimula a equidade dentro do escritório nacional da Uber, em São Paulo. Mas como refletir isso nas ruas? Os homens continuam a maioria dos motoristas.
Embora a Uber seja uma empresa de tecnologia, nossa operação se concretiza na rua. Então todo investimento que fazemos em diversidade e inclusão internamente é também para impactar e refletir essa mudança externamente para motoristas e usuários da nossa plataforma.
Desde 2019, temos o programa Elas na Direção, que é parte do nosso esforço em criar um ecossistema mais diverso e inclusivo e também em fazer cada vez mais pelas nossas parceiras. A iniciativa foi criada justamente com o objetivo de aumentar o número de mulheres gerando renda e tendo independência financeira. Um dos recursos que lançamos dentro desse projeto é o U-Elas, ferramenta que permite que as motoristas mulheres escolham fazer viagens apenas com passageiras mulheres. Um dos resultados desse lançamento é que vimos o número de motoristas mulheres ativas na Uber crescer 22% de um ano para o outro — três vezes mais que o aumento de motoristas homens no mesmo período. Eu já testei a ferramenta e pude ver de perto o quanto ela realmente traz mais liberdade e tranquilidade para as mulheres decidirem como querem trabalhar.
Uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão mostrou que 94% das motoristas valorizam a flexibilidade para cuidar de si e da família como uma das principais vantagens de dirigir com a Uber. É por isso que fico muito feliz em acompanhar esse crescimento e ver que nossa plataforma representa uma alternativa de renda para as mulheres, ainda que haja um longo caminho de avanço pela frente.