Rafael Schur: Instituições financeiras brasileiras vão bem no E, mas precisam melhorar no S e no G, do ESG
Devido às questões regulatórias e por sua vocação, são líderes nas questões ambientais e climáticas que compõem a agenda de sustentabilidade da sigla.
Rafael Schur, líder do segmento de mercado de serviços financeiros da EY Brasil, e Fernando Siedschlag, especialista ESG da EY Brasil. (Foto: Divulgação)
Dentre as 700 instituições financeiras (IFs) analisadas no EY Sustainable Finance Index (SFI) em 2022, três são brasileiras, que representaram 43% da carteira de crédito e 48% das captações bancárias no país em setembro do ano passado. Neste artigo, buscamos comparar os avanços e as lacunas da agenda ESG no Brasil (baseada nessas três IFs) com a agenda global.
As IFs aumentaram seus esforços em direção a uma maior sustentabilidade dos seus negócios, melhorando suas divulgações ESG. A taxa média de divulgação aumentou para 82% na média global. As IFs europeias se destacam com uma taxa de divulgação de 84% em oposição à taxa de divulgação de 58% das IFs norte-americanas. Já as IFs brasileiras analisadas têm uma taxa média de divulgação de 87%, bastante alta para os padrões globais.
As três IFs brasileiras têm indicadores consistentes acima da pontuação média dos líderes globais em ESG. Os retardatários têm avançado a uma velocidade maior, com 37% de crescimento do SFI em dois anos, em comparação aos líderes e aos seguidores, com 5% de crescimento do SFI em dois anos. As três IFs brasileiras, mesmo pontuando acima da média dos líderes, permaneceram quase paradas nesses dois anos, com 1% de crescimento do SFI. Portanto, apesar da boa pontuação, ainda há espaço de evolução para as práticas ESG no Brasil.
Quando analisamos os três subindicadores do SFI, podemos observar que o peso de cada componente no resultado do índice é bastante diferente no Brasil e no resto do mundo. No Brasil, a agenda ambiental e climática (o E, do ESG) está bastante avançada e representa 42% do SFI. No outro extremo, a agenda de governança (G) está menos desenvolvida e representa 22% do SFI.
Já no mundo, o peso dos componentes ambiental, social e de governança no SFI é bastante diferente. Para os retardatários e seguidores, o maior peso está na agenda social (S), respectivamente 47% e 45%, enquanto a agenda ambiental representa apenas 10% do peso do SFI. Para os líderes, a composição do índice é um pouco mais equilibrada, mas ainda assim a agenda social tem maior peso (36%). Podemos concluir que as IFs brasileiras têm liderado a agenda ambiental e climática, porém precisam avançar nas questões sociais e de governança.
Para o subindicador S, os dois fatores que apresentam pior resultado para as IFs brasileiras, quando comparadas às IFs globais, são os seguintes:
- Satisfação dos clientes: foram avaliados os números de controvérsias publicadas na mídia vinculadas a reclamações de clientes ou insatisfações diretamente relacionadas aos produtos e serviços e o percentual de satisfação do cliente reportado pela instituição financeira. No caso das instituições brasileiras, esses valores não são reportados e, portanto, receberam nota baixa.
- Aspectos sociais da gestão de terceiros: o estudo avaliou se a empresa informa ou mostra estar pronta para encerrar uma parceria com um fornecedor no caso de os critérios de direitos humanos não serem atendidos. Como esse critério não foi reportado, não houve pontuação.
Para o subindicador G, os dois fatores que apresentam pior resultado para as IFs brasileiras, quando comparadas às IFs globais, são os seguintes:
- Efetividade do conselho de administração: foram avaliados 20 critérios que medem a efetividade do conselho de administração e existem oportunidades de melhoria nesses indicadores, principalmente relacionados à existência de membros independentes no conselho e nos comitês.
- Litígios e controvérsias: o levantamento avaliou as despesas com litígios e controvérsias, e, quando esse valor não é reportado, o indicador recebe nota zero.
Com relação ao subindicador E, as instituições brasileiras estão acima da média global em todos os fatores, com destaque para:
- Mudança climática e gestão de energia: foram avaliados indicadores alinhados ao tema como emissão de carbono, utilização de água, consumo de energia, gastos com meio ambiente, e, nesse tema, as instituições brasileiras se destacaram.
- Aspectos ambientais da gestão de terceiros: o estudo analisou diversos indicadores ambientais publicados para os terceiros, que mantêm relacionamento com as IFs, e novamente as instituições financeiras brasileiras se destacaram, quando comparadas com seus pares globais.
Podemos concluir que as instituições brasileiras, por causa das questões regulatórias e por sua vocação, são líderes nas questões ambientais e climáticas que compõem a agenda de sustentabilidade ESG. Porém, não é possível baixar a guarda nesse tema, pois os avanços de forma geral sobre esse assunto estão acelerados, como demonstrou a COP27. Já nas questões sociais e de governança, ainda há espaço de melhoria quando comparamos as IFs brasileiras com seus pares globais.
Fonte: Agência EY