Gestão de riscos é tema novo e desafiador para empresas brasileiras de saúde
Multinacionais, por outro lado, já contam com estruturas globais de gerenciamento dos riscos de negócio em diversas vertentes, por meio de áreas como compliance e controles internos, cujos esforços estão integrados no dia a dia
Multinacionais, por outro lado, já contam com estruturas globais de gerenciamento dos riscos de negócio em diversas vertentes, por meio de áreas como compliance e controles internos, cujos esforços estão integrados no dia a dia (Foto: Unsplash)
As empresas que se destacam na gestão de riscos têm demonstrado uma vantagem competitiva na conquista de novos clientes, na retenção de talentos e na consolidação de sua posição de liderança nos setores de saúde e farmacêutico brasileiros. Enquanto as empresas nacionais veem a implementação da área de gestão de riscos como tema novo e desafiador, as multinacionais contam com estruturas globais de gerenciamento de riscos em diversas vertentes, por meio de áreas como compliance e controles internos, cujos esforços estão integrados no dia a dia. Em workshop promovido pela EY com 15 empresas, sendo três hospitais, duas operadoras de saúde, três laboratórios de diagnósticos e sete farmacêuticas, foram identificados os riscos de negócio que podem impactar o setor de saúde, assim como caminhos para estruturar adequadamente o trabalho de monitorar/gerenciar essas ameaças.
A gestão de riscos na saúde suplementar, demonstrada no workshop da EY, auxilia os tomadores de decisão no monitoramento do ecossistema, a fim de que estejam atentos aos movimentos de consolidação e regionalização do mercado, antecipando-se a eles para manter a sustentabilidade dos seus negócios. A adoção de novas tecnologias como teleatendimento e telecuidado é estratégica para aprimorar a qualidade de vida dos pacientes e aumentar a competitividade das empresas.
Os hospitais, operadoras de saúde e laboratórios de medicina diagnóstica identificam e avaliam os riscos da companhia com base em metodologia interna – por meio de atividades alinhadas com a alta administração. No entanto, a maior parte das atribuições de determinados riscos ainda é feita por outras unidades e setores operacionais, descentralizando os objetivos estratégicos entre as unidades de negócio. Isso se deve à baixa participação da gestão de riscos em papéis fundamentais na governança dessas empresas e à baixa propagação da cultura de riscos incorporada em todos os níveis, por meio de políticas, procedimentos e treinamentos sem definição de cronograma anual de revisão e atualização da avaliação de riscos.
Na indústria farmacêutica, o processo de gestão de riscos está mais estruturado, o que possibilita identificar e avaliar riscos estratégicos, com a integração dessa função com a visão e os valores incorporados na cultura da companhia. Existe nessas empresas um grande apoio da liderança, influenciando positivamente a disseminação da cultura em temas sensíveis como conduta e ética; proteção de segurança da informação; entre outros. No entanto, apesar de haver estrutura e modelo estabelecidos de governança de riscos, o processo se revela complexo por causa do monitoramento de riscos descentralizado, o que dificulta a consolidação do mapa de riscos corporativos pela falta de sinergia entre as áreas envolvidas.
Planilha ainda predomina
A grande maioria das empresas participantes do workshop ainda faz sua gestão de riscos por meio de planilha, o que restringe análises avançadas e geração de relatórios eficientes. O uso de um software especializado em gestão de riscos, além de facilitar esse trabalho, incluindo a elaboração do plano de ação, é uma ferramenta que unifica as linhas de defesa da organização.
Empresas farmacêuticas se destacam
As farmacêuticas estão mais maduras do que hospitais, operadoras de saúde e laboratórios de medicina diagnóstica em gestão de riscos. Isso porque a grande maioria das empresas desse segmento no Brasil é subsidiária de multinacionais, contando dessa forma com governança e aculturamento estabelecidos em nível global para o gerenciamento de riscos. Já os hospitais, operadoras de saúde e laboratórios de medicina diagnóstica são predominantemente companhias nacionais, que não estão na mesma etapa de maturidade da cultura de gestão de riscos observada nas multinacionais, embora contem com suporte cada vez maior da alta liderança.
“O ritmo das mudanças, refletido nos riscos identificados, está se acelerando em níveis sem precedentes, ameaçando no longo prazo a competitividade e a sobrevivência das empresas de todos os setores, incluindo as de saúde, que não tomam medidas decisivas, motivo pelo qual deve haver uma gestão eficiente dos riscos. Somente assim, as organizações poderão enfrentar os desafios complexos que se dão em um ambiente caracterizado por transformações constantes”, diz João Méscolin, gerente sênior de Consulting da EY. “Para que a gestão de riscos seja eficaz, conforme destacamos no workshop, há necessidade de uma estruturação madura, com integração entre as áreas, disseminação da cultura de riscos em todos os níveis da organização e utilização de ferramentas e tecnologias adequadas”.