CEOs estão mais otimistas no Brasil e no mundo, mas a reinvenção contínua é essencial para sobreviver, mostra pesquisa da PwC
A proporção de CEOs otimistas sobre o crescimento global dobrou de 18% para 38%, enquanto diminuíram os temores relacionados à inflação e à volatilidade macroeconômica.
Marco Castro, sócio-presidente da PwC. (Foto: Sergio Zacchi)
O imperativo da reinvenção dos negócios para garantir a sobrevivência no longo prazo ficou ainda mais evidente na 27ª edição da Global CEO Survey, da PwC. A pesquisa ouviu mais de 4.700 líderes empresariais de mais de 100 países, incluindo o Brasil.
A disrupção tecnológica (especialmente a Inteligência Artificial), as mudanças climáticas e outras megatendências pressionam as empresas. Na edição anterior, 33% dos CEOs brasileiros (39% no mundo) acreditavam que suas empresas não seriam viáveis por mais de uma década se mantivessem o mesmo rumo nos negócios. Nesta edição, 41% dos respondentes no Brasil e 45% no mundo manifestaram esse temor, sendo que 97% dos respondentes da pesquisa disseram ter tomado alguma medida para mudar a maneira de criar, entregar e capturar valor dos seus negócios nos últimos cinco anos.
Essa preocupação dos CEOs com a viabilidade dos negócios parece não refletir em sua percepção sobre a economia: 36% dos líderes brasileiros acreditam em uma aceleração do crescimento econômico global nos próximos 12 meses (17% no ano passado). O índice é semelhante à visão dos líderes globais, 38% ante 18% em 2023.
Quando questionados sobre o crescimento econômico de seu próprio país, 55% dos brasileiros enxergam tendência de aceleração para os próximos 12 meses, enquanto a média global é de 44%.
O otimismo dos CEOs brasileiros quanto ao crescimento das suas próprias empresas no próximo ano diminuiu, mas ainda se destaca. O número dos CEOs do Brasil que confiam “muito” ou “extremamente” no crescimento de suas receitas caiu de 60% para 52%, ficando 15 pontos percentuais acima da média global. Na projeção para os próximos três anos, o resultado do país também é mais positivo (62%, ante 49% no mundo), ainda que o número na edição anterior fosse de 67%.
Fatores que devem impactar as empresas
“Os números da pesquisa mostram que há no horizonte um ímpeto de reinvenção, principalmente quando cruzamos essa agenda com pautas como tecnologia e meio ambiente”, diz o sócio-presidente da PwC Brasil, Marco Castro. Globalmente, 46% dos entrevistados disseram que as mudanças tecnológicas impulsionaram “muito” ou “extremamente” transformações no modo como suas empresas geram valor nos últimos cinco anos. Já 56% previram o mesmo grau de impacto para os próximos três anos. Sobre as questões climáticas, os índices globais também indicam um aumento significativo da mobilização: 22% para os últimos cinco anos e 30% para os próximos três.
No Brasil, é ainda mais alta a expectativa sobre a disrupção tecnológica. “Segundo a pesquisa, 63% dos CEOs brasileiros apontam transformações na maneira de gerar valor em função dos avanços tecnológicos nos últimos cinco anos, e 72% preveem ainda mais mudanças nos próximos três anos”, afirma Castro. Outros dois fatores mostram variação considerável na comparação entre passado e futuro: mudanças nas preferências do consumidor (52% para 64%) e mudanças climáticas (19% para 29%).
Sobre as principais ameaças percebidas pelos CEOs para o próximo ano, houve mudanças significativas na comparação com a edição anterior do estudo. Em 2023, 40% dos CEOs no mundo (39% no Brasil) diziam se preocupar com a inflação, índice que caiu para 24% no mundo e 29% no Brasil em 2024 - a maior redução em pontos percentuais da lista.
A volatilidade macroeconômica foi citada por 24% dos respondentes no mundo e 31% no Brasil (ante 31% no mundo e 38% no Brasil no ano anterior). A preocupação com riscos cibernéticos entre os CEOs no mundo foi a única com registro de aumento - ainda assim, bastante tímido, de 20% para 21%. No Brasil, esse temor caiu de 27% para 25%.
Ao mesmo tempo, o percentual de CEOs do mundo preocupados com conflitos geopolíticos baixou de 25% para 18% globalmente e de 23% para 17% entre os CEOs brasileiros; assim como mudanças climáticas - 14% para 12% no mundo e 17% para 16% no Brasil.
Ainda que em menor grau em relação ao ano anterior, a instabilidade macroeconômica se tornou a principal fonte de preocupação no Brasil, à frente da inflação. Globalmente, ambas estão empatadas em primeiro lugar:
Clima sob perspectiva
A 27ª CEO Survey concluiu que os líderes empresariais estão se mobilizando pelo clima. Cerca de três quartos dos entrevistados em todo o mundo apontaram que têm esforços em curso ou concluídos para melhorar a eficiência energética - no Brasil, o índice é de 71%.
Cerca de dois terços dos CEOs no Brasil e no mundo afirmam ter projetos em curso ou concluídos para novos produtos, tecnologias ou serviços ambientalmente responsáveis. Já para iniciativas de venda de produtos, tecnologias ou serviços que apoiem os esforços de resiliência climática, mais da metade dos respondentes no Brasil e no mundo indicaram ter avanços registrados.
“34% dos CEOs no Brasil (41% no mundo) relatam ter aceito taxas de retorno menores para investimentos favoráveis ao meio ambiente do que para outros investimentos – tolerando até seis pontos percentuais a menos, no caso dos brasileiros. Isso é uma clara evidência de que existem CEOs dispostos a fazer concessões importantes para reforçar a sustentabilidade de seus negócios”, diz Castro.
Mesmo com a movimentação das companhias pelo clima, muitos CEOs relataram não ter planos para uma série de outras ações climáticas. Por exemplo, menos da metade de todos os entrevistados globalmente (45%) e no Brasil (43%) incorporaram o risco climático no planejamento financeiro e quase um terço não tem planos para fazê-lo.
IA e mercado de trabalho
A pesquisa da PwC também buscou as perspectivas dos CEOs quanto ao uso de inteligência artificial (IA) nas empresas. Segundo a pesquisa, nos próximos 12 meses, cerca de metade dos CEOs no Brasil e no mundo esperam que a IA generativa melhore a sua capacidade de construir confiança junto a stakeholders e 64% dos CEOS brasileiros esperam que essa tecnologia melhore a qualidade dos seu produtos ou serviços (58% na média global).
Nos próximos três anos, cerca de 70% dos entrevistados no Brasil e no mundo preveem que a IA generativa aumentará a concorrência, impulsionará mudanças nos seus modelos de negócio e exigirá novas competências da força de trabalho. Eles também esperam melhores resultados no curto prazo - 50% no Brasil e 41% no mundo preveem impacto positivo na receita nos próximos 12 meses; e 55% no Brasil e 46% no mundo projetam efeito positivo na rentabilidade.
Ainda que haja otimismo no horizonte sobre a inteligência artificial, a CEO Survey também indicou que 25% dos CEOs no mundo e 31% no Brasil preveem uma redução do número de funcionários em 5% ou mais em 2024 devido à IA generativa. Globalmente, os setores que mais veem a IA generativa como um fator de redução de pessoas nos próximos 12 meses são: Mídia e Entretenimento (32%); Seguros (28%); Bancos e Mercados de Capitais (28%); Serviços para empresas (25%); e Telecomunicações (25%).
Como contrapartida, os cortes de pessoal motivados pela IA generativa podem ser
compensados pela contratação geral: 47% dos CEOs no Brasil e 39% no mundo disseram que suas empresas aumentarão o número de funcionários nos próximos 12 meses.
A adoção de IA generativa parece também não ter reduzido as preocupações em relação a riscos. Globalmente, 64% acreditam que a IA generativa pode aumentar os riscos em cibersegurança e 52% as chances de disseminação de informações falsas. Esses percentuais sobem para 68% e 56%, respectivamente, quando consideradas empresas que já adotaram IA.
Obstáculos à reinvenção
A pesquisa perguntou aos CEOs sobre os obstáculos que eles enfrentam quando empreendem esforços de mudança corporativa em grande escala. Entre as barreiras citadas, estão processos burocráticos, prioridades operacionais concorrentes, recursos financeiros limitados, competências da força de trabalho e recursos tecnológicos.
Em média, os CEOs afirmam que 40% do tempo gasto em reuniões, processos administrativos e e-mails é ineficiente – enquanto 35% dizem o mesmo em relação a reuniões de tomada de decisão. Uma estimativa conservadora do custo dessa ineficiência seria equivalente a um “imposto voluntário” de US$ 10 trilhões sobre a produtividade.
Brasil sai da lista das dez principais fontes de crescimento das empresas
Anualmente, a CEO Survey indica quais são os países mais citados pelos CEOs como fontes de crescimento para suas empresas. O Brasil figurou entre os dez mais citados nas últimas 10 edições. Na edição mais atual da pesquisa, pela primeira vez, o país está fora do top 10, ocupando o 14º lugar.
Cinco dos dez países mais citados tiveram redução de importância no ranking. Chamam a atenção a queda de 11 pontos percentuais dos Estados Unidos – que ainda encabeçam o ranking, mas estão bem mais próximos da China, a segunda colocada – e o aumento da mesma proporção da fatia de CEOs que não citaram nenhum país como destino de crescimento.
“Estamos vivendo um momento onde parte expressiva do mundo está em conflito ou na sua iminência. Os países que não estão nessas regiões são maduros ou sem grandes oportunidades para os investidores”, afirma Castro.
“Mesmo não estando no short list dos 10 países que representam as maiores oportunidades de crescimento para as empresas pesquisadas, continuamos dentro de um grupo privilegiado para atração de investimentos: sem conflitos, com perspectivas econômicas mais positivas, com upsides importantes e oportunidades. Temos uma profunda crença no potencial do país como player importante na transição para uma economia verde e em áreas como produção de alimentos e transição energética, alternativa clara no realinhamento das cadeias produtivas e investimentos em infraestrutura. A inflação decrescente, a redução de taxas de juros, além dos avanços das reformas promovidas nos últimos anos, inclusive a tributária, só favorecem esse posicionamento”.