Educação financeira voltada para DeFi e criptoativos deve ganhar impulso
Finanças descentralizadas possibilitam a inclusão financeira, mas precisam antes ser conhecidas pela população de forma geral em relação a benefícios e riscos.
Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY Brasi. (Foto: Divulgação)
O investimento em criptoativos e todas as possibilidades trazidas pelas finanças descentralizadas, conhecidas como DeFi, têm chamado a atenção de um público cada vez maior. O início da implementação do real digital, por meio de projeto-piloto desenvolvido pelo Banco Central com instituições financeiras selecionadas, trouxe ainda mais visibilidade para termos próprios desse universo como tokenização, smart contracts e blockchain.
Nesse contexto, para que os investidores possam aproveitar os benefícios desse mercado, com consciência dos riscos envolvidos em alguns desses investimentos, uma nova educação financeira ganhará impulso e será trabalhada pelos órgãos reguladores e pelos players de criptoativos, como prestadores de serviços de ativos virtuais, incluindo as instituições financeiras.
“Um dos principais objetivos da economia tokenizada é a inclusão financeira, que não existe sem educação financeira. Os ativos são fracionados, permitindo assim o acesso facilitado a eles por investidores que, da forma tradicional do CeFi, não teriam condições financeiras”, disse Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY Brasil, na Febraban Tech 2023. “Para que os investidores conheçam os benefícios e riscos, o primeiro passo é demonstrar e explicar o que a tecnologia permite fazer”.
Ou seja, em um primeiro momento, analisa Talarico, as pessoas precisarão saber que estão usando o real tokenizado, mas, no futuro, isso vai perder a importância porque tudo estará integrado nos aplicativos e nas plataformas, com os investimentos tradicionais ao lado dos novos podendo ser visualizados por todos. “As possibilidades do PIX estão tão evidentes atualmente que ninguém vê a necessidade de entender como funcionam as operações do ponto de vista tecnológico”, finalizou.
No fim de maio, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) aprovou um convênio com a ABCripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia) voltado para o desenvolvimento de ações de educação financeira junto a investidores de criptomoedas. As campanhas e o material educacional abordarão novas tecnologias financeiras, como aplicações da criptoeconomia baseadas em blockchain, tendo DeFi como foco.
Desafio na educação financeira
Historicamente, o Brasil não apresenta desempenho satisfatório em educação financeira, embora avanços tenham ocorrido nos últimos anos, como a exigência pelo MEC (Ministério da Educação) de ser lecionada como uma disciplina transversal nos ensinos fundamental e médio. O país aparece entre os últimos colocados na edição mais recente do Índice Global de Inclusão Financeira: 35ª posição em uma lista de 42.
O estudo, realizado pelo Centro de Pesquisas Econômicas e Empresariais (CEBR, na sigla em inglês) e pela Principal Financial Group, analisa como os governos, sistemas financeiros e empregadores dessas nações fornecem ferramentas, serviços e orientações relevantes para proporcionar inclusão financeira. Singapura apareceu como o mercado financeiro mais inclusivo do mundo, seguido por Estados Unidos e Hong Kong.
Uma das constatações é que mercados com classificação alta em inclusão financeira tendem a ter bom desempenho em outros fatores sociais, como segurança alimentar; produtividade; resiliência econômica e social; padrão de vida; e adaptação às mudanças climáticas.