Uso do plástico em técnica inovadora faz corais da Baía de Todos os Santos (BA) dobrarem taxa de crescimento
O objetivo do projeto é promover a recuperação do ecossistema de recifes de corais nativos, ameaçados pela espécie invasora Coral-sol.
Uso do poliacetal fez o coral nativo Millepora alcicornis dobrar sua taxa de crescimento na Bahia. (Foto: Divulgação)
Em uma iniciativa inovadora de restauração de recifes de corais na Baía de Todos-os-Santos, na Bahia, o uso do poliacetal, um tipo de plástico conhecido por sua resistência, fez o coral nativo Millepora alcicornis dobrar sua taxa de crescimento. O experimento foi realizado no primeiro ano de atividades do projeto Corais de Maré, desenvolvido pela empresa Carbono 14, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Instituto de Pesca Artesanal de Ilha de Maré, com patrocínio da Braskem.
A ação utiliza o esqueleto do Coral-sol, espécie considerada invasora na região, como base na produção de sementeiras para cultivo do coral nativo. Essas sementeiras foram instaladas em berçários no fundo do mar, na Ilha de Maré, em Salvador (BA), sendo fixadas com plástico, com objetivo de potencializar o crescimento dos espécimes. Depois foram transferidas para povoar uma área de recifes, de cinco mil metros quadrados, que fica a aproximadamente seis quilômetros da costa.
“Percebemos que o coral nativo dobrou sua taxa de crescimento com o uso do poliacetal, passando de 7 cm em seis meses para os mesmos 7 cm em três meses”, descreve o professor de Oceanografia Biológica no Instituto de Geociências da UFBA, Igor Cruz. Segundo ele, o próximo passo é repetir o experimento nas profundidades de cinco e dois metros, assim como testar outros materiais como polietileno, PVC, nylon, aço inox e cerâmica.
O projeto visa recuperar os recifes da Baía de Todos-os-Santos, que teve a quantidade de corais reduzida em 50% desde 2003, de acordo com levantamento de pesquisadores da UFBA. Essenciais para a biodiversidade, esses ecossistemas abrigam pelo menos 25% das espécies marinhas, além de contribuírem para a atividade econômica e de subsistência das comunidades costeiras, de acordo com estudos da Rede Global de Monitoramento de Recifes de Coral (GCRMN).
“A biodiversidade marinha da Baía de Todos-os-Santos está ameaçada pelo Coral-sol, espécie invasora, contudo seu esqueleto serve de matéria-prima para recuperamos o nosso, pois possui carbonato de cálcio, um material riquíssimo”, explica o CEO da Carbono 14, José Roberto Caldas, conhecido como Zé Pescador. Ele acrescenta que a utilização do plástico no projeto se provou eficiente. “Testamos alguns tipos de plástico, como PVC, Nylon Polietileno e Poliacetal, mas este último trouxe o melhor retorno”, afirma.
Para a gerente de Relações Institucionais da Braskem na Bahia, Magnólia Borges, o primeiro ano do projeto Corais de Maré demonstrou a capacidade do plástico em melhorar a vida das pessoas. “A Braskem patrocina o Corais de Maré por acreditar no potencial do plástico como uma solução simples e eficaz para construção de um futuro sustentável. É possível usufruir de todas as qualidades do material e ainda oferecer benefícios para o meio ambiente, como nos revela o projeto”, destaca.
Capacitação da comunidade – Além do desenvolvimento da técnica inovadora na restauração dos corais, o projeto Corais de Maré promoveu a capacitação de 10 jovens da comunidade de Ilha de Maré como agentes ambientais. Também foram realizadas oficinas de restaurações de corais, com a participação de 17 pescadores, que construíram as sementeiras fixadas em áreas submarinas. O projeto também visa promover o descarte correto de resíduos, com mutirões de limpeza na Ilha de Maré. Em uma dessas ações, pescadores, marisqueiras e voluntários recolheram 254 kg de resíduos.