Responsabilidade ambiental vai resgatar imagem do Brasil no exterior, concluem empresários em Fórum Empresarial LIDE
Ministro do TCU, Bruno Dantas anunciou, no evento, criação de Secretaria de Administração Pública Consensual.
Bruno Dantas, vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU). (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
A manhã do segundo dia da 21ª edição do Fórum Empresarial LIDE – considerado o mais importante evento empresarial do país - apresentou painéis com temas ligados à sustentabilidade e agenda ESG, discutidos por empresários, representantes de órgãos públicos e do Poder Legislativo
No primeiro debate, "Alcançando a Governança e Transparência nos Setores Público e Privado", o ministro Bruno Dantas, vice-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) e que assumirá a presidência em 2023, e o ex-ministro da CGU (2015) e do Planejamento, Orçamento e Gestão (2015-2016) Valdir Moyses Simão defenderam que agentes públicos e empresariado cultivem a cultura do acordo, do consensual, em substituição à cultura da desconfiança. "Precisamos ensinar aos agentes públicos como negociar acordos, com resultados que sejam bons para ambas as partes", afirmou o ministro Bruno Dantas.
Ex-ministro da CGU e do Planejamento, Orçamento e Gestão, Valdir Moyses Simão. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
"Nosso ambiente de negócios é muito burocrático. Solução é incentivar que as agências reguladoras se abram para negociação, conversas. Um bom sistema de compliance evita boa parte dos delitos e as empresas precisam se sentir estimuladas a relatar eventuais delitos para a administração pública", disse o ex-ministro Valdir Moyses Simão.
Dantas anunciou que, ao assumir a presidência do TCU, vai criar a Secretaria de Administração Pública Consensual, que será responsável pelo acompanhamento de grandes projetos, com a função de favorecer o diálogo e encontrar soluções negociadas em caso de divergências, evitando assim disputas judiciais. O ministro também disse que vai implementar o Ranking da Transparência, para que cidadãos possam acompanhar as realizações e investimentos de seus municípios.
Participaram ainda do painel Arnoldo Wald Filho, conselheiro federal da OAB e membro do comitê de gestão do LIDE, e Mathew Govier, diretor de sustentabilidade da Accenture na América Latina
Compromisso Ambiental
No segundo painel do dia, "Como a Sustentabilidade e o Compromisso Ambiental podem resgatar e valorizar o Brasil", Candido Bracher, membro do Conselho de Administração do Banco Itaú e ex-presidente da instituição, afirmou que lidar de forma responsável e eficiente com a questão ambiental poderá resgatar a imagem do Brasil aos olhos do mundo.
Candido Bracher, membro do Conselho de Administração do Banco Itaú. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
"Se o desmatamento da Amazônia cresceu 70% nos últimos três anos, isso é manchete mundial porque está no centro do maior problema que o mundo vai enfrentar nas próximas décadas, o aquecimento global", disse.
Mas se o país efetivar políticas para a redução de emissão e para a captação de gás carbônico, poderá não só reverter os danos à sua imagem, como também entrar em um novo ciclo econômico.
"Em 2020 emitimos 50% a mais de gás carbônico do que a média mundial. Por isso somos considerados párias nesse cenário. Mas 46% dessas emissões vem do desmatamento. Então, é possível reverter esse quadro cumprindo a lei, buscando alternativas de trabalho para a populaçao local e não abandonando a região", explicou.
Para Bracher, se conseguirmos reduzir a emissão será possível lutar para que haja a precificação da captura de carbono, o que poderia se tornar um produto adicional para a agricultura brasileira.
O empresário Oskar Metsavaht, fundador da Osklen e do Instituto-E, lembrou das dificuldades que teve no início de suas atividades para conectar o trabalho com moda e a sustentabilidade.
"Em 1998 fiz um projeto com a Embrapa e uma comunidade de baixa renda para a primeira plantação de algodão orgânico no país, mas não foi fácil fazer a sociedade enxergar a importância dos projetos ambientais", relembrou.
Para Metsavaht, o país tem tecnologia, pesquisas de ponta e projetos de grande alcance para se tornar uma economia sustentável.
"Mas nossa fragilidade é ter vários projetos que agem por si s[o, de forma fragmentada. Precisamos ter um projeto de Estado, que una tudo isso e que crie nossos critérios ESG. Sustentabilidade tem que ser nossa bandeira", disse.
Responsabilidade ambiental vai resgatar imagem do Brasil, dizem empresários. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O empresário e publicitário Nizan Guanes, outro participante do painel, criticou o fato de o país não conseguir agir e se posicionar de forma global. "Aqui só se fala para dentro", disse. Segundo Guanaes, o agronegócio brasileiro é o melhor do mundo, mas não faz um trabalho de advocacy para firmar seu papel no cenário mundial. "A agricultura vive um perigo imenso, de ficar defasada com a mudança do mercado, com os avanços da biologia, de virar uma Kodak".
Do painel participaram ainda Ricardo Assumpção, CEO da Grape ESG, Roberto Klabin, presidente do LIDE Sustentabilidade e Matthew Gover, da Accenture.
Transição Energética
A programação da manhã terminou com o tema "Transição e Modernização no Modelo Energético Brasileiro". Autor da lei 14.300, que criou o marco legal da Geração Distribuída, o deputado federal Lafayette de Andrada (Republicanos - MG), queixou-se do emaranhado de leis, portarias e regulamentações que regem o setor elétrico no país.
"O investidor é afugentado pelo emaranhado de leis e portarias. A lei 14.300 foi um passo para diminuir a barafunda", disse o deputado, que agora trabalha para a aprovação do Código Brasileiro de Energia Elétrica.
"Precisamos pacificar esse cipoal regulatório para dar clareza e segurança jurídica aos investidores", afirmou, lembrando que o país tem 80% de sua matriz energética composta por fontes de energia renovável, ao contrário do que acontece em outros países, principalmente na Europa, que têm suas matrizes compostas majoritariamente de fontes não renováveis.
Deputado federal Lafayette de Andrada (Republicanos - MG). (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
Sandro Yamanoto, diretor técnico da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), informou que o Brasil ocupa atualmente a sexta posição no ranking mundial de capacidade eólica instalada, com geração anual de 22GW, o equivalente a 11,9% da matriz energética brasileira.
"É uma energia com baixíssimo impacto ambiental, além de gerar renda para a população local já que os parques geralmente são construídos em áreas arrendadas", explicou.
Marcio Trannin, vice-presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaíca (Absolar) apresentou pesquisa feita pela agência Bloomberg mostrando que em 2050 38% da matriz energética mundial será de energia solar; 20% de energia eólica. A energia hídrica, na previsão da Bloomberg, terá 7% de participação.
Marcio Trannin, vice-presidente do Conselho de Administração da Absolar. (Foto: Gustavo Rampini/LIDE)
O painel foi mediado por Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do LIDE Energia
Sobre o Fórum
Pela primeira vez, o Fórum Empresarial LIDE acontece na cidade do Rio de Janeiro, entre 23 e 26 de junho, no Hotel Fairmont, em Copacabana, na Zona Sul da cidade. O evento reúne líderes de diferentes setores para dialogar sobre novos caminhos para o desenvolvimento do Brasil, abordando temas como governança e transparência na gestão pública; sustentabilidade e compromisso ambiental; modernização do modelo energético brasileiro; o futuro político e institucional do Brasil; o papel da democracia na sociedade; as lideranças políticas e a retomada econômica, além da profissionalização do esporte e a retomada de eventos culturais.