VÍDEO: E o tarifaço? Giannetti, Latif e Megale explicam

Roberto Giannetti, Zeina Latif e Caio Megale analisam os impactos da nova tarifa ao Brasil e propõem uma estratégia de reação negociada e cautelosa para evitar prejuízos ainda maiores.

Resumo do posicionamento dos economistas:

  • O tarifaço não tem justificativa econômica e é fruto de uma decisão política.

  • O impacto macroeconômico é limitado, mas setores específicos podem ser fortemente afetados.

  • A incerteza provocada pela medida paralisa investimentos e gera instabilidade.

  • O Brasil deve negociar com firmeza, mas sem politizar ou ameaçar.

  • O país segue atrativo para investimentos globais, mas precisa diversificar seus mercados e reduzir dependência dos EUA.


Em um momento delicado do cenário internacional, os economistas Roberto Giannetti, Zeina Latif e Caio Megale analisaram, em um especial do LIDE, as consequências da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos ao Brasil. A medida, considerada precipitada e desproporcional, pode comprometer diretamente setores estratégicos da economia nacional, afetando exportações, investimentos e o ambiente de negócios.

“A nós, empresários e investidores, interessa previsibilidade, estabilidade e responsabilidade, e não esse jogo de voluntarismo e inconsequência que estamos assistindo”, criticou Roberto Giannetti. Segundo ele, a decisão dos Estados Unidos desrespeita as regras do comércio internacional e foi tomada sob uma lógica mais política do que econômica. “O Brasil tem uma relação deficitária com os EUA. Não há ameaça à indústria americana nos produtos que exportamos. Esse tarifaço não faz sentido do ponto de vista econômico.”

Setores afetados e impacto no mercado

O Brasil exporta anualmente cerca de 40 bilhões de dólares para os Estados Unidos, o que representa algo entre 10% e 13% do total das exportações brasileiras. Os setores mais afetados são tanto o agronegócio, com destaque para carne, açúcar, suco de laranja e frango, quanto a indústria de alto valor agregado, como a Embraer, o setor automotivo e, sobretudo, a siderurgia e o alumínio. “O setor de alumínio, por exemplo, já estava sobrecarregado de tarifas e agora praticamente não exporta mais nada. A tarifa beira os 100%”, ressaltou Giannetti. “Se as coisas ficarem como estão, será insustentável.”

Apesar disso, Zeina Latif ponderou que o impacto macroeconômico geral sobre o PIB não será tão expressivo no curto prazo, uma vez que as exportações para os EUA representam apenas 2% do PIB brasileiro. No entanto, ela destacou os graves efeitos microeconômicos: “O problema é sério para algumas empresas e setores específicos. A dificuldade será redirecionar a produção e lidar com essas tarifas se elas se mantiverem por muito tempo.”

Incerteza paralisa investimentos

Os três economistas concordam que o fator mais prejudicial neste momento é a incerteza. “Não há nada pior do que a imprevisibilidade para um empresário decidir sobre investimentos”, enfatizou Caio Megale. “Quando um investidor não consegue enxergar o cenário à frente, todos os planos de negócio podem se tornar inviáveis de uma hora para outra. Isso paralisa decisões, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, porque lá também as indústrias passam a não saber qual será o custo das matérias-primas.”

Além do impacto imediato sobre setores industriais, há um risco maior de médio e longo prazo: o efeito sobre a confiança dos investidores. “Mesmo que o governo americano recue, sempre ficará aquela sensação: será que isso é definitivo ou pode mudar de novo a qualquer momento?”, disse Latif. Esse clima leva à necessidade de diversificação dos parceiros comerciais, reduzindo a dependência do mercado norte-americano.

Oportunidade para o Brasil e cautela na resposta

Apesar do cenário conturbado, os especialistas enxergam vantagens competitivas do Brasil no cenário global. “O país está bem posicionado, relativamente distante dos principais conflitos comerciais e geopolíticos”, afirmou Zeina Latif. “O Brasil está na fronteira da segurança alimentar, da energia limpa e do fornecimento de matérias-primas estratégicas. Num mundo com escassez de oportunidades, o Brasil ainda atrai investimentos.”

Diante disso, a recomendação dos economistas é agir com equilíbrio e cautela, evitando uma escalada do conflito comercial. “Esse não é um jogo de nós contra eles”, alertou Giannetti. “Precisamos sentar à mesa com os Estados Unidos e negociar com profissionalismo. Essa tarifa não interessa a ninguém, nem ao Brasil, nem aos empresários americanos, nem ao consumidor americano.”

Para Caio Megale, o caminho é o diálogo: “Tem muita água para passar embaixo dessa ponte ainda. O mais sábio é evitar uma escalada. Mostrar que temos instrumentos de resposta é importante, mas usá-los de forma precipitada pode agravar ainda mais o problema. Nessa história, ninguém ganha.”