Taxas encerram o dia em alta, com tarifaço dos EUA ainda no foco

A curva de juros futuros percorreu a segunda etapa do pregão desta quinta-feira, 10, em alta, após a disparada observada ontem em reação ao tarifaço dos Estados Unidos sobre o Brasil. O mercado ainda operou atento aos possíveis efeitos da alíquota de 50% sobre produtos nacionais, enquanto os dados de inflação de junho foram ofuscados pelo aumento da tensão comercial. Mas a percepção de que tanto o governo americano quanto o brasileiro tendem a moderar o tom e chegar a uma solução com impacto menos nocivo para a economia doméstica pode ter contribuído para aliviar a abertura das taxas hoje.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2026 passou de 14,918% no ajuste de quarta para 14,935%. O DI de janeiro de 2027 subiu de 14,159% ontem no ajuste para 14,305%. O DI de janeiro de 2028 aumentou a 13,565%, vindo de 13,414% no ajuste da véspera. O DI do primeiro mês de 2029 avançou de 13,301% ontem no ajuste para 13,450%.

"A curva sofreu pouco hoje se compararmos com os números de fechamento de ontem, uma vez que o anúncio da tarifa dos EUA sobre o Brasil foi feito após o ajuste de quarta", observa Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. "Há uma percepção de que as tensões terão moderação, com algo no meio do caminho, e que as decisões de ambos os governos não serão tão levadas a ferro e fogo", diz Borsoi, ponderando que esta pode ser uma precificação arriscada.

Como possível embasamento para essa visão, Borsoi cita que, segundo a CNN Brasil, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) considera negociar diretamente com a Casa Branca para tentar reverter o tarifaço. A situação de Bolsonaro, impedido de concorrer às eleições pelo TSE e réu em ação penal do STF, foi uma das justificativas do presidente dos EUA, Donald Trump, para a ofensiva comercial contra o Brasil.

Hoje, dois dirigentes do Federal Reserve (Fed) discursaram em eventos públicos na parte de tarde, com indicações mais dovish para a política monetária do país e também menos pessimistas sobre o embate comercial. O diretor Christopher Waller reiterou que o BC americano tem espaço para cortar as taxas de juros já em julho. A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, por sua vez, afirmou ver um certo alívio em relação às tarifas, que não são tão altas como se esperava. Ela acredita que a autoridade monetária americana fará dois cortes de juros em 2025 - o primeiro deles em setembro.

Por aqui, o governo precisa ser cuidadoso na forma como vai reagir ao tarifaço, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Há uma conotação política complicada. Já estamos nos aproximando do período eleitoral e colocar uma tarifa de volta contra os EUA teria um efeito adicional de inflação em um momento que não é interessante, em que está em curso um processo de desinflação", afirma Vale.

Divulgado hoje pelo IBGE, o IPCA cedeu de 0,26% em maio para 0,24% em junho, acima da mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 0,20%. Embora o índice cheio tenha superado as expectativas, economistas não viram mudança na tendência prospectiva mais comportada para a inflação. Depois do anúncio da tarifa americana de 50% sobre o Brasil, porém, o indicador de junho "virou um assunto morto", avalia Borsoi.