Risco de recessão é principal preocupação dos investidores na América Latina

Inflação, riscos geopolíticos e volatilidade do mercado foram citados na sequência nessa ordem, de acordo com estudo da EY voltado para gestores de patrimônio.

WhatsApp Image 2025-07-25 at 10.10.30Emerson Morelli, sócio de auditoria e líder da EY para o setor de Wealth and Asset Management. (Foto: Divulgação)

Mais da metade dos investidores na América Latina (56%) consideram o risco de recessão econômica como a principal preocupação referente ao seu patrimônio, de acordo com a edição 2025 do Global Wealth Research Report, produzido pela EY. Inflação, com 52% das respostas, e riscos geopolíticos, como instabilidade política e guerras comerciais, com 43%, vêm na sequência. A volatilidade do mercado, com 39%, e mudanças de regulamentação e política, incluindo as de ordem tributária, com 38%, completam a lista.

No Brasil, a reforma tributária traz alterações no ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação), o que afeta diretamente heranças e doações. A principal mudança está na progressividade das alíquotas – antes fixas entre 2% e 8%, dependendo do Estado da federação, independentemente do valor do patrimônio envolvido. O aumento das alíquotas deverá ocorrer, ainda segundo o texto aprovado da reforma, de acordo com o valor dos bens transmitidos, o que significa que patrimônios maiores estarão sujeitos a um imposto mais alto. Nesse contexto, ganha espaço o planejamento sucessório antecipado, que pode resultar em menor tributação para o contribuinte.

No total, foram entrevistados 153 investidores latino-americanos (60 brasileiros), que fizeram parte de uma amostra global de 3.587 respondentes. Em termos de patrimônio, os investidores foram divididos em quatro segmentos, começando em US$ 250 mil e terminando em mais de US$ 30 milhões. Três gerações foram contempladas: millennials ou Y, X e Baby Boomer.

“Nesse contexto incerto, conforme revela o estudo, os clientes estão cada vez mais buscando, além do planejamento sucessório antecipado, serviços como planejamento tributário e de aposentadoria, o que traz oportunidades para as empresas de gestão de patrimônio”, diz Emerson Morelli, sócio de auditoria e líder da EY para o setor de Wealth and Asset Management. “Há também uma busca crescente por interagir com seus gestores de patrimônio, a fim de receber orientação que possa tornar mais claro esse ambiente de investimentos. Isso resulta igualmente em novas oportunidades de negócio para os profissionais que souberem oferecer serviços que respondam aos desafios impostos pelo mercado”, completa.

A rapidez no atendimento ou suporte aos clientes é a chave para conquistá-los, com 32% dos investidores na amostra global planejando aumentar o número de gestores de patrimônio com quem interagem nos próximos três anos e 45% pretendendo direcionar entre um terço e metade dos seus ativos nesse processo.

Outras preocupações apontadas pelos respondentes latino-americanos são taxas de juros, com 37% das respostas; compreensão dos produtos disponíveis de investimento, com 23%; desafios da gestão familiar do patrimônio, com 19%; e acessibilidade habitacional (custo do empréstimo para esse fim), com 14%. No Brasil, o ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros da economia, pode ter chegado ao fim, considerando as indicações recentes do Banco Central e os indicadores de inflação anunciados nas últimas semanas. Ainda assim, essa taxa bem restritiva de 15% tem afetado a renda variável, o que preocupa os investidores que mantêm posição nesses ativos, ainda que esse cenário esteja em transformação nas últimas semanas – por causa principalmente da entrada de investidores estrangeiros.

Complexidade em alta da herança e da aposentadoria

Quando perguntados sobre o grau de complexidade para gerenciar aspectos do patrimônio na comparação com alguns anos atrás, o planejamento financeiro para herança/transferência de patrimônio apresentou o maior crescimento em relação à edição anterior do estudo. Mais de cinco a cada dez (51%) responderam que isso se tornou mais complexo – talvez influenciados, na amostra brasileira, pelas alterações já mencionadas produzidas pela reforma tributária. O segundo maior crescimento foi o planejamento financeiro para aposentadoria, com 48% preocupados com ele – alta de quatro pontos percentuais na comparação com o levantamento anterior.

Por fim, 27% dos respondentes disseram se sentir apenas um pouco preparados para atingir suas metas financeiras, e 5% afirmaram não estar nem um pouco preparados. Ainda que essas porcentagens sejam relevantes, especialmente quando somadas, a prevalência foi pela resposta “bem preparados”, com 61%.