População com mais de 60 anos que trabalha aumentou 69% em 12 anos no Brasil
Pesquisa revela que a decisão de se manter no mercado de trabalho é alimentada pela necessidade de arcar com seus custos de vida.
População com 60 anos ou mais é o segundo maior grupo na população em idade ativa no Brasil. (Foto: Freepik)
Do final de 2012 ao final de 2024, a população brasileira com 60 anos ou mais cresceu 55,4%, chegando a 35,2 milhões. Com esse salto, passou a representar o segundo maior grupo na população em idade ativa – considerando pessoas acima de 14 anos –, com 20% do total, perdendo apenas para a participação da população entre 18 e 29 anos, com 22%.
Levantamento da pesquisadora do FGV IBRE Janaína Feijó a partir de microdados da PNAD Contínua do IBGE mostra que o crescimento dos 60+ entre a população que trabalha foi ainda maior: de 68,9% entre o quarto trimestre de 2012 e o mesmo período de 2024, somando 8,6 milhões de pessoas. Em seu estudo, publicado no Blog do IBRE, Feijó destaca que a chamada “geração prateada” tem sido cada vez menos relacionada à ideia de inatividade ou dependência, conquistando maior relevância do ponto de vista econômico e social. “Essa transformação é reflexo do aumento da expectativa de vida, dos avanços na medicina e da maior valorização da autonomia e do bem-estar ao longo da vida”, diz.
A decisão de se manter no mercado de trabalho, entretanto, também é alimentada pela necessidade de arcar com seus custos de vida. André Braz, superintendente de Índices de Preços do FGV IBRE, explica que a composição na cesta de consumo desse grupo tende a ganhar peso itens como plano de saúde, medicamentos, produtos hortifrutigranjeiros, que podem representar uma pressão de preços diferente da observada nas demais faixas etárias. “Do período da pandemia para cá, por exemplo, identificamos uma inflação ligeiramente maior na cesta desse grupo em comparação ao agregado da economia”, afirma.
População em Idade Ativa (PIA) do Brasil, por faixa etária (%)
Fonte: FGV IBRE; com base nos microdados da PNAD Contínua do IBGE.
Uma preocupação de Janaína Feijó destacada no texto é quanto às oportunidades de trabalho desse grupo. Ela mostra que, no final de 2024, cerca de 54% da população ocupada 60+, ou 4,7 milhões, estudou até o fundamental completo. É um percentual menor do que em 2012, quando esse grupo menos escolarizado perfazia 71,6% do total, refletindo uma melhora gradual da escolaridade da população brasileira. Os 60+ com ensino superior completo que estavam trabalhando passou de 700 mil para 1,8 milhão nesse período de 12 anos, e aqueles com médio completo ou superior incompleto passaram de 700 mil para 2,1 milhões. Feijó destaca, entretanto, que a composição predominantemente ainda menos escolarizada tende a reduzir as chances desse grupo de engajar-se em atividades formais e mais bem-remuneradas.
Informalidade é maior
Taxa de informalidade (%) por faixa etária
Informalidade dos 60+ por grau de escolaridade (%)
Fonte: FGV IBRE, com base microdados da PNAD Contínua do IBGE.
Ela mostra que a taxa de informalidade na geração prateada, de 53,8%, é 15,2 pontos percentuais maior do que no geral da população brasileira (38,6%), e chega a 68,5% entre aqueles com até o ensino fundamental completo, onde se concentra mais da metade dos trabalhadores 60+.
“A remuneração média dos idosos que atuam no setor informal é de R$ 2.210, o que equivale a apenas 40% do que ganham, em média, os que estão em empregos formais (R$ 5.476)”, compara Feijó em seu texto. Ela também mostra que o aumento de mais de 3,5 milhões de pessoas 60+ no mercado de trabalho nos últimos 12 anos foi fortemente concentrado em trabalhadores do setor de serviços como vendedores do comércio e mercados, com um aumento de 26,75% no período, e na categoria “operários e artesãos da construção, mecânica e outros ofícios”, com 21,2%.
Cesta de consumo dos 60+ pode gerar mais pressão de preços
(IPC-S versus IPC-3i)
Fonte: FGV IBRE.
A pesquisadora do FGV IBRE ressalta que esse cenário aponta ao desafio que o país deve enfrentar para se adaptar a uma força de trabalho que envelhece, indicando a necessidade de planejar sua inclusão produtiva formal, “com ampliação de oportunidades de requalificação profissional e criação de ambientes laborais mais acessíveis e libres de preconceito etário.” Feijó também destaca que proporcionar um envelhecimento digno e ativo para esse grupo da população também gera um círculo virtuoso para a economia, ao explorar as demandas cada vez mais amplas desse grupo, que cada vez mais ganha importância no perfil demográfico brasileiro.