OCDE aponta crescimento global modesto em 2024 e necessidade de política monetária ainda restritiva
No caso do Brasil, a OCDE projeta crescimento de 3% em 2023, 1,8% em 2024 e 2% em 2025.
Projeção destaca o desempenho do setor agrícola no Brasil. (Foto: Pixabay)
A OCDE divulgou a revisão de suas projeções para a economia global. No geral, a projeção agregada para o PIB mundial em 2023 e 2024 não se alteraram – respectivamente, 2,9% e 2,7%. Na análise por países, entretanto, observa-se uma revisão para baixo das perspectivas de crescimento na área do euro tanto para ambos os períodos. O único país membro da OCDE com revisão positiva para o PIB são os Estados Unidos, com projeção de crescer, respectivamente, 2,4% em 2023 e 1,5% em 2024. No grupo do G20, nas projeções para 2024 houve revisão para baixo para Argentina (projeção atual é de -1,3%), China (4,7%) e Índia (6,1%). Brasil, México e Rússia tiveram aumento em relação ao Outlook anterior, com crescimento em 2024 esperado em, respectivamente, 1,8%, 2,5% e 1,1%.
Na coletiva, Clare Lombardelli, economista-chefe da OCDE, destacou que a suscetibilidade dos europeus aos preços de exportação de energia ainda é um problema – diferentemente dos Estados Unidos, que tem ampliado suas exportações desse grupo de commodities. Ela também alertou para o intenso uso de poupança no consumo das famílias europeias, sinal de uma dinâmica econômica ainda não equilibrada. O Outlook aponta uma trajetória gradual de convergência dos preços às metas dos bancos centrais até 2025. Apesar das projeções para a inflação serem benignas, sem perspectivas de novos choques de preços de alimentos e energia, Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE, defendeu a manutenção de uma política monetária apertada – algo que não significa, entretanto, uma volta de aumento das taxas básicas. A indicação de Cormann corrobora a tendência apontada no Seminário de Análise Conjuntural FGV IBRE/Estadão de setembro, de um alargamento do horizonte de corte pelos bancos centrais das principais economias.
No Outlook, a OCDE ainda alerta para a necessidade de políticas fiscais ajustadas para prevenir o que classificaram de aumentos insustentáveis da dívida pública, apontando impactos como o do envelhecimento da população a políticas voltadas para a transição energética para economias de baixo carbono, como o Inflation Reduction Act dos Estados Unidos e seu espelho na Europa. Além da manutenção de uma política monetária restritiva e uma estratégia fiscal capaz de suportar pressões de gastos, a OCDE ainda recomendou o foco na promoção de estratégias para estimular o livre-comércio e, ao mesmo tempo revigorar o potencial de crescimento das economias em geral posicionando-se de forma competitiva nesse mercado global em um contexto geopolítico complexo.
No caso do Brasil, a OCDE projeta crescimento de 3% em 2023, 1,8% em 2024 e 2% em 2025. O Outlook, destaca a dinâmica da economia este ano, puxada pelo desempenho do setor agrícola, a resiliência do consumo das famílias, e espera uma leve melhora do investimento privado em 2024. Para o setor externo, apesar da tendência de preços declinantes para as commodities, os produtos agrícolas deverão continuar a puxar as exportações, aponta.
Para a política monetária, a expectativa é de manutenção de taxas de juros em um nível alto, com redução gradual da Selic durante 2024, terminando o ano em 9,2%, e 2025, com expectativa de chegar a 7,8% na segunda metade do ano. A OECD destacou a importância de se perseguir as metas fiscais estipuladas desde a criação do novo arcabouço fiscal para a sustentabilidade da dívida e o restabelecimento da confiança nas finanças públicas. Também se referiu à reforma tributária e seus benefícios para a simplificação do sistema e redução do custo de conformidade, assim como à necessidade de se ampliar a progressividade do sistema. O documento cita como exemplo as deduções de serviços privados de saúde, enquanto a maior parte da população depende da oferta pública. A OCDE ainda mencionou a necessidade do investimento na oferta de creches para facilitar a participação das mulheres no mercado de trabalho, na eliminação de gaps na infraestrutura de transporte e saneamento básico, e no fortalecimento das medidas de proteção ambiental, destacando o setor agropecuário, “segunda maior fonte de emissões de gases do efeito estuda no país”, que para a OCDE precisa de políticas calibradas que incentivem boas práticas. A introdução de um mercado de carbono regulado, aponta, complementa esses esforços para “promover uma competição justa entre setores”.