Exportações continuam crescendo e as importações reduzindo
No acumulado do ano até setembro, o saldo, no valor de US$ 71,3 bilhões, já é o maior na série histórica anual da balança comercial.
Acumulado do ano, até setembro, já é o maior na série histórica anual da balança comercia. (Foto: Unsplash)
O superávit da balança comercial de setembro, no valor de US$ 8,9 bilhões, superou o de igual período em 2022 (US$ 3,7 bilhões), o que vem ocorrendo continuamente desde maio do corrente ano. No acumulado do ano até setembro, o saldo, no valor de US$ 71,3 bilhões, já é o maior na série histórica anual da balança comercial. O que esperar para 2023?
Como observado em relatórios anteriores do ICOMEX a melhora do superávit da balança comercial no corrente ano tem sido explicada pelo aumento do volume exportado e redução no volume importado, pois os preços tem caído para os dois fluxos. Igual comportamento é observado para os resultados da balança comercial de setembro (Gráfico 1 do release).
O volume exportado cresceu 7,4 % e o importado caiu 11,6 % na comparação interanual do mês de setembro entre 2022 e 2023; e, os preços cairam 7,6% (das exportações) e 11,6 % (das importações). No acumulado até setembro, o mesmo comportamento se repete: volume exportado cresceu (8,9%) e o importado caiu (2,7%); e, os preços exportados (8,0%) e importados (9,2%) caíram. Em termos de valor, as importações reduziram em 11,7% e as exportações 0,1%, na comparação entre os acumulados do ano até setembro.
As commodities lideram o comportamento das exportações brasileiras, o que está associado ao desempenho dos setores de agropecuária e extrativa. Os dois setores responderam por 48% das exportações brasileiras em setembro. Ademais, se somarmos os produtos classificados como commodities mas que estão na indústria de transformação (suco de laranja, gasolina, entre outros), chega-se ao percentual de 74%.
Os resultados para o mês de setembro mostram aumento de 12,7% no volume exportado e de 10,9% na comparação do acumulado do ano até setembro. As não commodities registraram queda tanto na comparação mensal (9,4%) ou no acumulado do ano (1,7%). Os preços cairam em todas as bases de comparação para os dois grupos (Gráfico 2 do release).
O Gráfico 3 do release mostra a média móvel quadrimestral dos índices de volume da agropecuária, extrativa e transformação. A média anual de crescimento entre 2018 e 2022 foi de 2,2% agropecuária, 0,6% extrativa e 3,1%, transformação. Observa-se, porém, a distância que vigora entre os níveis dos índices da agropecuária e dos demais setores.
O comportamento cíclico acentuado da agropecuária é esperado pela sazonalidade das safras, em especial da soja, principal produto do setor. Em setembro a soja explicou 50,5% das exportações do setor e 11,6% das exportações totais do Brasil. A indústria extrativa apresenta índices menores, mas com tendência crescente e a de transformação, os menores índices ao longo dos anos analisados.
Os resultados em 2023 mostram a perda de vigor da indústria de transformação em comparação com a média anual de 2018/2022. O volume exportado caiu 7,6% entre os meses de setembro de 2022 e 2023, sendo a queda das não commodities do setor em 13,3% e das commodities de 1,1%.
Na comparação entre os acumulados do ano até setembro, o volume exportado da indústria de transformação caiu 1,1%. O volume exportado pela agropecuária cresceu 45,2% (base mensal) e 22,4% (acumulado do ano) e o volume da extrativa, 21,5% (mensal) e 20,2% (acumulado do ano). Os preços caem em todas as bases de comparação (Gráfico 4 do release).
Os volumes importados caem para todos os setores de atividade na comparação mensal e do acumulado do ano (Gráfico 5 do release). Na comparação interanual de setembro de 2022 e 2023, a maior queda foi na extrativa (12,8%), seguida da transformação (10,4%) e agropecuária (6,5%).
No acumulado do ano até setembro, a liderança coube ao setor de agropecuária, queda de 18,6%, seguido da extrativa (5,9%) e a transformação (1,5%). A queda de preços é generalizada em todos os setores com registro de maior recuo na extrativa, 33,4% (mensal) e 29,2% (acumulado do ano).
O Gráfico 6 do release mostra o resultado para as importações de bens de capital e bens intermediários para a indústria de transformação e a agropecuária. As importações de bens de capital aumentam em 51,3% entre os meses de setembro de 2022 e 2023 para a agropecuária e recuam 10,5% para a transformação.
No acumulado do ano cresce 47,0% para a agro e 6,7% para a transformação. O bom desempenho da agropecuária esse ano com estimativa de aumento do produto em 13,4% segundo a projeção do modelo Ibre, em agosto do corrente ano, explica esse resultado.
A importação de bens intermediários cai para a transformação na comparação mensal (18,5%) ou do acumulado do ano (7,7%) e aumenta para a agropecuária na mensal (29,5%) e cai no acumulado do ano (2,7%).
No caso da indústria de transformação, o resultado reflete o baixo nível de atividade do setor e na agropecuária, fatores sazonais e câmbio apreciado podem ter influenciado o menor volume de compras no primeiro semestre.
As diferenças nos resultados nas importações de bens de capital nos levam a analisar o comportamento da série em anos anteriores. O Gráfico 7 do release mostra a evolução dos índices anuais de importações totais de bens de capital, das importações pela agropecuária e pela transformação.
O comportamento do índice total e da transformação caminham juntos, pois cerca de 98% a 99% do total das importações de bens de capital é realizada pela indústria de transformação. Os resultados mais recentes mostram entretanto, um aumento da participação da agropecuária, 2,3% em 2022 e 3,4% no acumulado do ano até setembro de 2023. A ultrapassagem do nível do índice da agropecuária em relação ao da transformação, em 2022, é explicada pelas altas taxas de crescimento das importações de bens de capital pela agro em relação aos da
A análise por mercados mostra que 52,8% do saldo da balança comercial brasileira até setembro é explicado pela China, US$ 37,6 bilhões (Gráfico 9 do release). Nesse mesmo período, foi registrado superávit com a Argentina (US$ 4,6 bilhões), Demais América do Sul (US$ 7,9 bilhões) e Ásia exclusive China (US$ 7,1 bilhões). Com os Estados Unidos, o Brasil acumulou um déficit de US$ 2,3 bilhões e com a União Europeia de US$ 644 milhões.
No mês de setembro, o volume exportado para a China cresceu 49,5% em relação a igual período de 2022. O outro único mercado com variação positiva foi a Ásia exclusive China, 2,1% (Gráfico 10 do release). Argentina registrou um recuo de 21,7%, o que deverá continuar e reduzir a variação positiva na comparação do acumulado até setembro, 13,0%. Para o segundo principal mercado, os Estados Unidos, as exportações caíram na comparação mensal (3,5%) e a variação foi positiva no acumulado do ano (3,5%).
Na análise do acumulado do ano, o volume importado cai em todos os mercados, exceto Ásia exclusive China (Gráfico 11 do release). No mês de setembro foram registradas variações positivas para a China (1,0%) e Ásia exclusive China (10,1%).
Por último, os termos de troca continuam a apresentar um comportamento estável (Gráfico 12 do release). Entre janeiro-setembro de 2022 e 2023, a variação nos termos de troca foi de 1%. Em setembro, a queda mais acentuada nos preços importados (11,6%) em comparação com o recuo nos preços exportados (7,6%) levou a um aumento de 4,5% nos termos de troca na comparação interanual do mês de setembro de 2022 e 2023.
BOX: O que esperar para 2023?
Em 2023, o superávit da balança comercial vai atingir o maior valor na sua série histórica. A Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) revisou a última previsão do superávit para o ano de 2023, de US$ 84,7 bilhões para US$ 93,0 bilhões. O modelo macro do IBRE previu em agosto um superávit de US$ 84,8 bilhões, que deverá ser revisto pra cima. Nossa estimativa preliminar é de um saldo entre US$ 90 bilhões e US$ 92,5 bilhões.
Num primeiro momento, os possíveis efeitos da guerra entre Israel e o Hamas não devem modificar essas previsões. A guerra entre a Ucrânia e a Rússia teve um impacto mais imediato nas exportações brasileiras, via os canais dos fluxos de commodities, grãos e petróleo. Em adição, havia temores dos efeitos na agricultura, dado que a Rússia era o principal fornecedor das importações de fertilizantes para o Brasil.
O Brasil, como membro do Mercosul, tem um acordo de livre comércio com Israel assinado em 2010 e que entrou em vigor em 2011. Da mesma forma, há um acordo Mercosul-Palestina assinado em 2011, aprovado pelo Congresso em 2018, mas que até agora aguarda sanção presidencial. O comércio do Brasil com os dois países é pequeno.
A participação de Israel nas exportações brasileiras é de 0,2% (52º colocado na lista dos mercados exportadores) e, nas importações, de 0,6% (34º na lista dos importadores. A Palestina é o 134º mercado para as exportações e o 157º mercado das importações. Para o Brasil é possível ganhos com o aumento do preço do petróleo, mas deve ser lembrado que o Brasil também importa petróleo. No acumulado do ano até setembro, a participação do petróleo e derivados nas exportações brasileiras foi de 15,3% e, nas importações, de 12,2%.
No momento, do ponto de vista do Brasil, a principal questão é a crise humanitária e os possíveis desdobramentos desse conflito. Os impactos irão depender de quanto o conflito possa se estender para outros países da região o que teria um efeito negativo para o crescimento da demanda mundial e impactos ainda não previsíveis com clareza no jogo geopolítico mundial.