Desvalorização do real é fruto da fuga de capital para os Estados Unidos
Segundo Paulo Feldmann, muito capital que estava aqui foi para lá e aconteceu uma grande desorganização.
Investidores consideram aplicações nos EUA como um investimento de risco quase zero. (Foto: Unsplash)
O aumento dos juros nos EUA pode impactar a economia e os investimentos no Brasil. Contudo, com a melhora dos indicadores econômicos brasileiros, o mercado interno tem mais fôlego para suportar juros mais altos nos EUA. O professor Paulo Feldmann, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da Universidade São Paulo, explica que o mercado interno dos EUA está passando por um período de aumento na inflação que não era esperado. Em uma reação a essa situação, o governo americano levantou sua taxa básica de juros com a intenção de reduzir a circulação de moeda.
Segundo Feldmann, os investidores consideram aplicações nos EUA como um investimento de risco quase zero. Por isso, o aumento dos juros, ou seja, o aumento da recompensa do investidor, configura uma situação desejável no mercado de investimentos, a de baixo risco e alto retorno.
“O que acontece quando a taxa de juros nos Estados Unidos aumenta? Os investidores no mundo inteiro correm para aplicar seu dinheiro lá. Porque, além da taxa lá estar alta, os Estados Unidos são um país que oferece uma segurança muito grande, então boa parte dos investimentos estão para lá, inclusive os que estão aqui no Brasil.“
Impacto no Brasil
Recentemente, a alta do dólar em relação ao real chamou a atenção da população. Houve uma desvalorização do real de aproximadamente 10% em relação ao dólar de dezembro até abril deste ano. Feldmann explica que esse movimento está relacionado com a fuga de capitais em direção aos Estados Unidos.
“O real, que estava em torno de 4,90, passou para R$ 5,20. Isso já é resultado desse fato da migração. Muito capital que estava aqui foi para lá e aconteceu uma grande desorganização. Isso desvaloriza nosso real e pode inclusive elevar os nossos juros também”, conta.
No entanto, na análise do professor, uma parcela dos investidores aproveita a situação para pressionar ainda mais o aumento da taxa brasileira de juros.
“Está havendo um apavoramento do mercado aqui no Brasil, que para mim é desnecessário. O que ocorre é que essa é situação é uma oportunidade para se elevar os juros no Brasil e retomar os altos rendimentos que alguns investidores estavam tendo. Junto à subida do dólar, surgem novas reclamações, todas desse mesmo setor. Falam das contas públicas, do arcabouço fiscal, não se sustenta” acrescenta.
O mercado interno no Brasil
O professor aponta que os indicadores brasileiros estão melhorando e revelam uma economia interna mais robusta.
“Estamos com a menor taxa de desemprego dos últimos dez anos, a renda média do trabalhador aumentou significativamente e isso já está se refletindo no varejo, que teve seu melhor primeiro trimestre dos últimos anos “, cita.
Em contrapartida, também existem problemas importantes no horizonte. Apesar da inflação controlada entre 4,5% e 5%, a alta nos preços dos alimentos preocupa. Além disso, a previsão da safra anual não é boa. Em decorrência das alterações climáticas, a safra deste ano deve produzir abaixo do comum e vem combinada com uma tendência de queda nos preços das commodities no mercado internacional.
Para o professor, o saldo é positivo. Ele lembra também que o Brasil é um dos países com maior previsão de chegada de investimentos externos para a indústria.
“Embora os investidores especulativos estejam migrando, os investimentos em cadeias de produção estão chegando. Isso porque temos uma situação estabilizada. Estamos com condições econômicas controladas, cenário político estável e somos um país com quase 80% das fontes energéticas renováveis, o que vem se tornando um ponto fortíssimo de destaque no mercado internacional”, finaliza.