Clima Econômico da América Latina melhora no primeiro trimestre liderado pela maior economia da região, o Brasil
Resultado favorável por dois trimestres seguidos não ocorre desde 2018.
Resultado favorável por dois trimestres seguidos não ocorre desde 2018. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
O Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina subiu 3,7 pontos entre o 4º trimestre de 2023 e o 1º trimestre de 2024, mantendo-se na zona de clima econômico favorável por dois trimestres seguidos pela primeira vez desde 2018. Ao registrar 105,7 pontos, o ICE atinge o maior valor desde o 1º trimestre de 2013 (109,8 pontos).
A melhora do ICE foi puxada pelo crescimento do Indicador de Expectativas (IE), que subiu 5,7 pontos, alcançando a marca de 113,7 pontos. O aumento ocorre após recuo de 6,2 pontos no trimestre anterior. No caso do Indicador da Situação Atual (ISA), a alta foi de 1,8 ponto, confirmando a tendência ascendente iniciada no 2º trimestre de 2023. Apesar disso, o ISA de 98,0 no trimestre ainda não alcança o nível neutro de 100 e se mantém na zona desfavorável.
Os resultados do 1º trimestre de 2024 foram comparados aos do mesmo período dos anos 2021, 2022 e 2023. Todos os indicadores registram melhora em relação aos trimestres selecionados, exceto o IE em relação ao 1º trimestre de 2021. Em relação ao 1º trimestre de 2023, no entanto, o IE atual é superior em 43,6 pontos. Os maiores ganhos em relação a 2021 e 2022 ocorrem no ISA, com diferenças de 78,6 pontos e 51,8 pontos, respectivamente. Com isso, o ISA do 1º trimestre de 2024 apresenta o maior nível dos últimos quatro anos.
Clima econômico: Resultados dos países
O ICE melhorou em todos os países, à exceção de México e Chile, cujos indicadores recuaram 27,5 e 7,9 pontos, respectivamente. Apesar da queda, o México continua na zona de avaliação favorável, ao lado do Paraguai, do Uruguai e do Brasil. Os demais países, apesar de registrarem alta no ICE, permanecem na zona de avaliação desfavorável.
Em relação ao ISA, dos 10 países analisados, cinco registraram recuo do indicador (México, Colômbia, Chile, Equador e Bolívia), sendo a maior queda na Colômbia (-18,3 pontos); quatro melhoraram (Paraguai, Uruguai, Peru e Argentina), sendo o maior ganho no Uruguai (60 pontos); e um ficou estável (Brasil). Estão na zona favorável, os mesmos países que estão na zona favorável do clima econômico: Paraguai, Uruguai, México e Brasil, cujo indicador ficou na zona neutra (100 pontos).
O IE ficou estável no Paraguai e recuou no Uruguai e no México. Em todos os outros países, houve melhora, com destaque para a Colômbia, com uma alta de 60 pontos. Com exceção de Equador, Argentina e Bolívia, todos os outros países estão na zona de avaliação favorável.
Entre as maiores economias analisadas, Brasil, Colômbia, Peru e Argentina foram as que mais contribuíram para o aumento do ICE da região. O México, a segunda maior economia da região, teve contribuição negativa. A queda ocorre após o país liderar a melhora no ICE no 4º trimestre de 2023.
Previsões para o crescimento do PIB dos países em 2024
Nesta edição da sondagem, as maiores revisões para cima ocorreram no Uruguai (+2,4 pontos percentuais), Chile (+2,3 p.p.) e Peru (+2,0 p.p.). As revisões para baixo não alcançaram um ponto percentual, como no caso do Brasil (-0,9 p.p, a maior variação de recuo), do Equador (-0,8 p.p.), da Argentina (-0,7 p.p.) e do Paraguai (-0,5 p.p.). As previsões de crescimento para a Bolívia e o México permaneceram estáveis (- 0,1 p.p.), assim como as previsões para a Colômbia (+ 0,2 p.p.).
A redução das projeções de crescimento do PIB da América Latina para 2024, de 0,2 ponto percentual (p.p.), é explicada pelo resultado do Brasil e da Argentina, já que as previsões para a segunda maior ficaram praticamente estáveis. Ao mesmo tempo, vale destacar a melhora esperada para o crescimento no Uruguai, Chile e Peru.
No conjunto dos países analisados, 53% dos especialistas consultados responderam que revisaram as projeções. Em 52% dos casos, a revisão foi de redução no crescimento. Um resultado relativamente equilibrado, que fez com que as projeções pouco se alterassem.
Os especialistas podem selecionar mais de um fator. A melhora nas condições internacionais (40,1%), seguida de novas medidas de estímulo (28,4%) e melhora no ambiente político (20,3%) foram os principais fatores apontados para revisões otimistas do PIB da região. No caso do Peru, perspectivas de melhora no setor de mineração e o menor impacto do El Niño também foram citados (outros, 66,7%), além da melhora no ambiente político (66,7%).
No México, a perspectiva de recessão nos Estados Unidos e de rearranjo das cadeias globais de produção não se confirmaram e isso tem colaborado para a sustentação de investimentos no país (outros, 100%). Na Argentina, o baixo risco de colapso econômico e as perspectivas do acordo com o Fundo Monetário Internacional influenciaram na construção de melhores expectativas de curto prazo para alguns analistas (outros, 100%).
No Brasil, a redução na taxa de juros foi destacada em “outros” (33,3%), mas igual percentual de respostas também foram assinaladas para melhora do ambiente macroeconômico internacional, melhora no ambiente político e novas medidas de estímulo.
Há uma grande heterogeneidade das respostas entre os países quando se analisa cada caso e no nível de consenso nas revisões. No caso do Brasil, 50% informaram que revisaram para cima e 50% para baixo. Ressalta-se que a revisão do PIB do Brasil foi para baixo e, como mostra a Tabela 3, condições externas, ambiente político, piora na situação fiscal e redução das exportações foram citadas por grande parte dos especialistas (66,7%). As condições da macroeconomia interna obtiveram um percentual menor (33,3%).
Para os que optaram por revisões para baixo na taxa de crescimento do PIB (Tabela 3 do release), políticas macroeconômicas internas, ambiente político e as condições internacionais lideraram as respostas na região.
Nas respostas “outros”, foi citada a situação fiscal, cambial e a condução política do Presidente, no caso da Bolívia; no Equador, a crise de segurança pública foi destaque; no Peru, o contexto internacional foi apontado como um fator relevante; e no Paraguai, o argumento foi a base de comparação com 2023, quando o PIB teria registrado um crescimento elevado. Não obtivemos respostas para o caso do Uruguai, mas a melhora nas previsões de PIB do país pode estar associada, em grande medida, ao fim da estiagem que prejudicou as exportações e o crescimento do país em 2023.
Enquetes especiais
Foram realizadas duas enquetes especiais para esta edição da Sondagem Econômica da América Latina. A primeira se refere ao agravamento da crise de segurança no Equador, em janeiro de 2024, associada às questões do narcotráfico e as dificuldades do governo em lidar com essa crise. Como seria esperado, nos países geograficamente mais próximos ao Equador, os especialistas responderam que a crise poderá afetar suas economias. Esse é o caso da Colômbia e Peru. Para o Brasil, houve consenso de que a crise de segurança equatoriana não afetará a economia.
Na Colômbia, apesar de todos admitirem um impacto da crise no país vizinho, a maioria dos especialistas considera que este impacto será baixo (88,9%). No Peru, 50% acham que o impacto será médio e 16,7%, que será alto; somados, os percentuais superam a opinião dos que consideram que será baixo.
Para o Brasil o tema não é relevante. Em 2023, a participação do Equador nas exportações totais do Brasil foi de 0,3%, e nas importações, de apenas 0,05%. Entre os países do Cone Sul, apenas no Paraguai o impacto foi considerado relevante: 50% dos especialistas assinalaram que o impacto será alto, enquanto outros 50% não veem a crise como um fator que interferirá na economia doméstica.
A segunda enquete se refere à eleição de Javier Milei, como Presidente da Argentina. A primeira questão é se os especialistas consideram que haverá efeito nas economias dos países. Responderam com percentuais acima de 50%, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai, países com quem a Argentina possui relações comerciais mais relevantes, além da proximidade geográfica.
Ressalta-se que é esperado o agravamento da crise argentina, dadas as medidas de contenção fiscal que se refletem numa queda do PIB em 2024 maior do que em 2023, conforme ilustrado no Gráfico 6 do release.
Em relação à intensidade do impacto, nos países supracitados predomina a opção pelo impacto “médio”: Uruguai, (80,0%); Brasil, (77,8%) e Chile e Paraguai, 50%, cada. A exceção foi a Bolívia, onde 50% dos especialistas responderam que será alto. O canal do impacto é o comércio, pois os laços financeiros entre a Argentina e estes países é pequeno.
Observa-se que a crise Argentina já reduziu a participação do país no comércio brasileiro: em janeiro de 2024, a participação argentina nas exportações brasileiras foi de 2,8%, o menor percentual na série histórica para o mês, ficando abaixo do período da crise dos anos 2000, quando o percentual havia sido de 3,5%.
Por fim, como seria esperado, o impacto da eleição de Milei é relevante para todos os especialistas consultados.: 75% dos especialistas consideram que o impacto será alto.