Aumento das importações em volume: bens de capital e duráveis de consumo
A piora no saldo se explica pelo recuo em valor de -7,1% nas exportações e aumento de +0,5% nas importações.
Superávit da balança comercial em maio de 2024 foi de US$ 8,5 bilhões, uma queda de US$ 2,5 bilhões em relação a maio de 2023. (Foto: Unsplash)
O superávit da balança comercial em maio de 2024 foi de US$ 8,5 bilhões, uma queda de US$ 2,5 bilhões em relação a maio de 2023. A piora no saldo se explica pelo recuo em valor de -7,1% nas exportações e aumento de +0,5% nas importações. No acumulado do ano até maio, porém, o saldo acumulado da balança comercial no valor de US$ 35,9 bilhões superou o de 2023 (US$ 34,5 bilhões). No acumulado até maio, a variação no valor exportado (+2,3%) superou o das importações (+1,8%).
As projeções para 2024, porém, são de um saldo menor em 2024 em relação a 2023. A última projeção do modelo Ibre, em maio, era um saldo de US$ 87,7 bilhões e o do Relatório Focus, após a divulgação do resultado da balança de maio, de US$ 82,5 bilhões.
Chama a atenção, no desempenho dos fluxos comerciais, a diferença nos resultados dos volumes. As exportações recuaram 1,9% e as importações aumentaram em 6,1%, entre maio de 2023 e 2024. Já no acumulado do ano até maio, foi registrada uma variação nas importações em +10,6% e nas das exportações de +7,5%.
Os resultados do volume importado em comparação com os das exportações revelam, até maio, uma inversão do desempenho desses fluxos, se comparados com os resultados entre 2022 e 2023. Seja na comparação mensal ou no acumulado do ano até maio, as maiores variações positivas eram nas exportações, entre 2022 e 2023, mas entre 2023 e 2024, são nas importações. Entre maio de 2022 e 2023, as exportações cresciam +28,4% e as importações, +1,8%.
O recuo no volume exportado em maio foi liderado pelas exportações das não commodities (-8,6%), mas as commodities também registraram um fraco desempenho, com variação de +1,0%. Na comparação do acumulado do ano até maio entre 2023 e 2024, as commodities lideraram com aumento de +13,8% e um recuo de -5,4% das não commodities.
O melhor desempenho das commodities foi liderado pela indústria extrativa, com aumento de volume de +17,0%, na comparação interanual do mês de maio e de +22,2% na do acumulado até maio entre 2023 e 2024. A variação no volume do agro foi negativa na comparação mensal (-6,0%) e positiva no acumulado do ano até maio (+5,0%).
A variação na indústria de transformação foi negativa em maio (-6,6%) e positiva no acumulado do ano (+3,3%). Os preços caem para todos os setores de atividades, com maior intensidade na agropecuária, que registrou um recuo de -18,0%, na comparação do acumulado no ano. A única exceção foi a extrativa, mas com aumento de apenas +0,6%, no acumulado do ano. Com esses resultados, a participação da indústria extrativa (25,8%) superou a da agro (22,8%) no período de janeiro a maio de 2024. A participação da indústria de transformação nas exportações foi de 50,9%. Nesse mesmo período em 2023 era de 52,1%.
O melhor desempenho da extrativa se deve às exportações de petróleo bruto, que cresceram em valor +31,2% e em volume (kg) +32,5%, entre janeiro/maio de 2023 e 2024, e do minério de ferro, com variação em valor de +13,8% e de volume, +8,4%. A soja em grão registrou variação negativa em valor, -17,6% e aumento de volume (kg) de +2,4%. A participação das exportações de petróleo, 14,9% nas exportações totais do Brasil, foi próxima a da soja, 15,7%, e superior a do minério de ferro (9,3%). Os dados dos produtos citados são da Balança Comercial divulgada pela Secretaria de Comércio Exterior.
O ICOMEX calcula os índices para o agregado de petróleo e derivados. Como mostra o Gráfico 5, no acumulado do ano até maio, a variação do volume foi de +27,2% e, em maio, de +13,7%. No caso das importações, houve aumento em maio (+6,2%) e recuo no acumulado do ano (-0,9). O aumento dos preços importados (+8,8%) superou o das exportações (+5,1%), em maio. No acumulado do ano, os preços caem. A maior variação em volume do petróleo bruto do que o agregado do petróleo e derivados confirma a contribuição da indústria extrativa.
O aumento das importações em volume por setor de atividade mostra a liderança da agropecuária, com variação de +67,0% (maio) e +35,2% (acumulado no ano até maio) (Gráfico 6). O principal produto importado, em maio, da agropecuária foi o trigo, com participação de 31% e variação em valor de +66% e de volume (medido por tonelada) de +132%, em relação a maio de 2023. Destaca-se a soja com a maior variação em valor e tonelada. Foi o quarto principal produto importado, com participação de 11,8%, variação em valor de +138.712% e em toneladas de +304.523%. No acumulado do ano até maio, a variação das importações de soja em valor foram de +396% e em toneladas de +521%. O saldo da balança comercial de soja reduziu de US$ 8,1 bilhões para US$ 5,7 bilhões, entre o período de jan-maio 2023 e jan-maio de 2024.
Observa-se, porém, que as importações do setor agropecuário respondem por cerca de 2,5% das importações brasileiras, a indústra extrativa ao redor de 7% e a de transformação, 90%. O que explica o aumento das importações?
O ICOMEX usa a mesma classificação das Contas Nacionais do IBGE para a classificação por categoria de uso. Nessa classificação, os combustíveis ficam no grupo de bens intermediários. Bens semi-duráveis são artigos de vestuário, tecidos, eletrodomésticos, por exemplo. No acumulado do ano até maio, a participação dos bens de capital nas importações foi de 15,5%, dos bens duráveis de 4,2%, dos bens não duráveis de 9,4%, dos bens semiduráveis de 2,8% e dos bens intermediários de 68,1%. Os bens intermediários são o principal contribuinte para explicar o desempenho das importações. Pelo ICOMEX, a contribuição de petróleo e derivados representam 12% das importações, o que reduziria a participação dos bens intermediários para 56,1%, mas continua sendo o principal grupo das importações, após os bens de capital.
Embora com participação de 4,2% nas importações, como já mencionamos, os bens duráveis lideraram a variação no volume importado, +68,9% (maio 2023/2024) e no acumulado do ano até maio, +49,9%. Nesse grupo se destacam os veículos elétricos importados da China, com uma contribuição de 87% no mês de maio e de 109% para a média até maio para o aumento do volume importado de bens duráveis.
Um outro resultado chamou atenção: o aumento das importações de bens de capital. Seria um indicador da recuperação da taxa de investimento? A partir de março de 2024, os índices superam os registrados em 2023. A maior variação foi observada no mês de abril, +28,7%, quando o índice em abril de 2023 ficou abaixo de 100.
Na série histórica do ICOMEX, que inicia em janeiro de 1998, foi calculada a média do índice de volume importado para os acumulados do ano até maio, desde 2010. A média do período recente, janeiro a maio de 2024, foi a maior já registrada, o que sinaliza uma perspectiva favorável para a taxa de investimento do país. No entanto, o cenário de volatilidade cambial, como ocorreu no mês de maio/junho, não favorece novos planos de investimentos.
A comparação entre as importações de bens de capital da indústria de transformação e da agropecuária mostram que o aumento do volume importado é explicado pelos investimentos da indústria, que registraram variação positiva de +15,5%, enquanto as compras de bens de capital pela agro recuaram -15,9%, na comparação do acumulado do ano até maio. O melhor desempenho da transformação se traduz, também, numa variação positiva nas compras de bens intermediários de +9,6%, enquanto as compras desses bens na agro recuaram em -4,3% .
Por último, o desempenho nos mercados dos principais parceiros mostra que a União Europeia liderou em termos de volume a variação das exportações em maio, com +21,8%, seguida dos Estados Unidos (+7,2%) e China (+1,1%). O recuo nas vendas para a Argentina foi de -38,2%, mas os Demais países da América do Sul registraram o mesmo comportamento, queda de -25,4%, assim como os Demais da Ásia (-20,3%).
Na comparação do acumulado do ano até maio, a liderança passa para os Estados Unidos (+17,2%), seguido da China (+11,5%), Demais Ásia (+6,8%) e União Europeia (+3,8%). Argentina e Demais América do Sul registraram variações negativas.
Em termos de participação no acumulado do ano até maio, a China explicou 30,5% das exportações brasileiras, os Estados Unidos, 11,5% e a União Europeia, 13,8%. Para todos essse mercados, a exportação do óleo bruto de petróleo foi o principal produto: União Europeia (23%); China (23%); e Estados Unidos, 17%. Dados do Comex Vis da Secretaria de Comércio Exterior.
No caso das importações, a China lidera o volume importado, seja na comparação mensal (+18,0%) ou na do acumulado do ano (+32,2%).