CEOs apontam quatro competências comportamentais que mais observam na contratação de seus diretores
Apesar das habilidades técnicas sofrerem variações de setor para setor, algumas competências comportamentais são uma constante na visão de quem está à frente de uma corporação.
Da esquerda para a direita: Leonardo Meneses, CEO da GetNinjas, Cláudio Zattar, CEO da Unidas, Cláudia Abreu, ex-CEO da Mundo Verde, e Vivian Portella, CEO do Grupo B&T. (Foto: Divulgação)
A contratação de diretores é um dos desafios dos CEOs, embora, muitas vezes, estes executivos já tragam sua própria equipe de liderados na transição de uma empresa para outra. No perfil destes profissionais, apesar das habilidades técnicas sofrerem variações de setor para setor, algumas competências comportamentais são uma constante na visão de quem está à frente de uma corporação e precisa de suporte para colocar suas decisões em prática. Esta é a opinião compartilhada por Leonardo Meneses, Cláudio Zattar e Vivian Portella, CEOs da GetNinjas, Unidas e do Grupo B&T, respectivamente, e de Cláudia Abreu, ex-CEO da Mundo Verde.
“A transversalidade das cadeiras de alta gestão é uma questão natural. Pode fazer diferença um diretor, um VP ou um C-Level ter uma qualificação técnica aqui ou ali a mais, mas geralmente, estes profissionais não têm grandes problemas em se encaixar ou dar resultados em outros setores diferentes dos quais trabalham. O maior diferencial entre executivos nesse estágio de carreira são as competências comportamentais, é a maneira como gerem as próprias emoções e como o seu modelo mental opera totalmente além das questões técnicas", destaca Rafael Meneses, diretor da unidade de negócio Top Executive do Grupo Hub, consultoria de RH com soluções de recrutamento e seleção e desenvolvimento de pessoas.
Abaixo, com base em suas experiências, os quatro executivos elencam as soft skills imprescindíveis na formação de seus times diretos e aquelas que não têm mais espaço no mercado.
Em alta
Paixão em resolver problemas
Para Leonardo Meneses, hoje CEO da GetNinjas, mas com passagens nos segmentos varejista e financeiro, o diretor tem que que ser um verdadeiro entusiasta por problemas. “É um caminho natural: quanto mais o profissional sobe na carreira, mais problemas aparecem para ele resolver. É preciso gostar de resolvê-los, se apaixonar por eles porque a vida de um C-Level é, essencialmente, resolver problema e entregar produtividade. Importante, também, é enfrentá-los com naturalidade e, ao mesmo tempo, ser desapegado da sua solução. Muitos diretores se apaixonam pela solução e querem aplicá-la para todo tipo de desafio, o que não funciona”, destaca.
Capacidade de orquestração
Cláudia Abreu, ex-CEO da Mundo Verde, ressalta que há muitos bons profissionais no mercado, mas que sofrem de um problema grave: não sabem delegar e nem orquestrar um time diverso. “Você só consegue alavancar um negócio entendendo o papel da sua área dentro do objetivo global da empresa e quebrando este objetivo em tarefas menores. É como montar um quebra-cabeça, compreendendo quem contribui com o que para atingir determinada meta. Esta capacidade de orquestração do time é fundamental para que cada um traga uma habilidade diferente para a mesa. É assim que se obtém resultado através do time”, diz.
Comunicação clara e objetiva
Cláudio Zattar, CEO da Unidas, concorda com Cláudia e acrescenta ainda a habilidade de comunicação. “Costumo observar a capacidade de engajarem os times nos objetivos da empresa, que é ter a ‘visão do cliente’ madura e exemplar, e exercitar a habilidade de se comunicarem com clareza aos seus liderados, desenvolvendo e estimulando a busca por inovação. Os perfis mais bem sucedidos são de líderes dirigentes, orientadores, treinadores e gentis”.
Autorresponsabilidade e disciplina
Já para Vivian Portella, CEO do Grupo B&T, responsabilidade e disciplina são palavras de ordem. “Os CEOs, às vezes, se tornam secretários dos diretores, cobrando as tarefas excessivamente. O diretor necessita ter autorresponsabilidade, dando feedbacks espontâneos sem precisar ser cobrado. Tudo isso tem a ver com a disciplina da entrega, o que é fundamental, sobretudo, nos regimes de trabalho remotos”.
Em baixa
Síndrome do pequeno poder
Leonardo frisa que a companhia é uma só e que a síndrome do pequeno poder é um defeito que tem derrubado muitos profissionais. “Você atua no que é melhor, mas não cabe subir a cerca do seu quadrado. Este é um defeito que prejudica toda a empresa. O diretor tem que ser um veículo permeável da companhia, capaz de descer a cultura, subir o feedback e fazer os devidos ajustes. Esta mentalidade de se achar o protagonista não cabe. A personalização excessiva é maléfica, inclusive, porque quando as coisas derem errado a conta também recairá sob os ombros de quem se coloca no centro de tudo”, pondera.
Apego ao passado
Na visão de Claudia, experiências passadas ajudam na construção de uma base, mas é fundamental a capacidade de adaptação diante do novo. “Tem que ser flexível, ter jogo de cintura e vontade de aprender. Muito se fala de inovação como algo apenas relacionado a tecnologia. Mas, às vezes, inovar é apenas fazer a mesma coisa de forma diferente. E para isso, o profissional tem que ter curiosidade e um certo olhar de criança”.
Coercitividade excessiva
Cláudio, por sua vez, destaca o alto nível de coercitividade como uma grande falha nas lideranças. "Torna a gestão mais pesada, impositiva e gera um impacto desagregador na equipe. Acaba se criando uma corporação com colaboradores seguidores de ordens, submissos, pouco criativos e permeados pelo medo de errar diante da pressão exercida por esse perfil de liderança".
Falta de comunicação
Para Vivian, a comunicação é essencial para execução. “Não adianta executar bem se o líder não é capaz de comunicar suas entregas e não demonstra que as coisas estão acontecendo. A comunicação é competência essencial na vida, inclusive”, reforça.
Liderança transformadora
Para o diretor do Grupo Hub, Rafael Meneses, o líder que deixa legados não é o melhor operador de uma máquina, mas sim o que mais tocou o coração das pessoas e as fez serem melhores do que eram antes da sua chegada. “Hoje não tem mais como um grande líder estar direcionando o seu negócio se não for para transformar a sociedade em um lugar melhor para todos”, complementa.