Ainda Estou Aqui: Le Monde diz ter apagado mais de 21 mil comentários de brasileiros

Le Monde, jornal francês que fez crítica negativa a Ainda Estou Aqui, teve seus perfis nas redes sociais invadidos por comentários de brasileiros. Bruno Meyerfeld, correspondente do veículo no Brasil, analisou a situação em sua coluna, Carta de São Paulo, nesta segunda-feira, 27.

O jornalista revelou que o jornal se surpreendeu com o descontentamento dos fãs brasileiros. A crítica de Jacques Mandelbaum chamou o filme de Walter Salles de "hierático" e julgou a atuação de Fernanda Torres como "monocórdica".

"Em dois dias, o jornal teve que apagar cerca de 21.600 comentários [de brasileiros] com conteúdo ofensivo, a maioria do Instagram, em comparação com 700 por dia em tempos normais", afirmou Meyerfeld.

O correspondente do Le Monde descreveu que os comentários oscilavam entre engraçados, machistas e "mal intencionados", mencionando um usuário que comparou franceses a "porcos que nunca tomam banho". Ele ainda disse que alguns brasileiros acreditam que o veículo esteja conspirando a favor de Emilia Pérez, principal concorrente de Ainda Estou Aqui nas premiações cinematográficas.

"Para eles [os brasileiros] é impossível não gostar desse filme melodramático e de estilo consensual, cuja temática ressoa em um Brasil castigado pelo mandato de Jair Bolsonaro", escreveu. O jornalista também disse que a raiva direcionada ao jornal vem do amor dos brasileiros por Fernanda Torres.

Por fim, ele mencionou o roteiro do filme e reconheceu o papel relevante do Le Monde durante a ditadura militar brasileira, época em que veículos internacionais davam espaço à oposição e à resistência ao redor do mundo.

Vale lembrar que outros veículos franceses foram mais elogiosos a Ainda Estou Aqui. O jornal Liberátion disse que "Walter Salles narra com força e emoção o luto impossível que atingiu os Paiva". O Le Figaro classificou o filme como "uma cativante e poderosa narrativa histórica".

A revista especializada em cinema Première, por sua vez, o definiu como "uma obra dilacerante". Outra publicação tradicional, a Cahiers du Cinemà, o chamou de "um filme realizado com sutileza, que reafirma a necessidade da transmissão".

O longa de Walter Salles está indicado a três prêmios no Oscar 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, para Fernanda Torres. A cerimônia de premiação acontece no dia 2 de março.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais