'Tecnologia pode economizar até R$ 1 bilhão em nitrogênio por ano', diz CEO da Stenon
Monitoramento em tempo real do solo promete reduzir custos e emissões no agronegócio paulista, sem perda de produtividade.
Stenon é atualmente a única empresa no Brasil capaz de gerar esses ganhos com a ferramenta. (Foto: Divulgação/Stenon).
O agronegócio de São Paulo, responsável por uma das maiores produções de alimentos do Brasil, pode estar diante de uma revolução silenciosa. Uma tecnologia de monitoramento em tempo real do nitrogênio no solo tem potencial para gerar uma economia anual de até R$ 1 bilhão, segundo estimativas da agtech alemã Stenon, que acaba de ampliar sua presença no país.
O fertilizante nitrogenado, especialmente a ureia, nunca pesou tanto no bolso do agricultor. Apesar da queda nos preços após a pandemia, o insumo ainda é negociado a valores entre R$ 2.400 e R$ 2.600 por tonelada, reflexo direto de conflitos geopolíticos e instabilidade em regiões fornecedoras como o Leste Europeu e o Oriente Médio. Em um cenário em que os fertilizantes já representam mais de um terço dos custos de produção de grãos, qualquer redução faz diferença.
Uma conta que não fecha
Dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) e da consultoria Datamar mostram que os agricultores paulistas compraram 2,11 milhões de toneladas de fertilizantes só no primeiro semestre de 2024. Até o fim da safra, esse volume deve ultrapassar 4,3 milhões de toneladas, das quais 1,4 milhão são nitrogenados. Aos preços atuais, a conta passa facilmente dos R$ 3,5 bilhões.
Estudos independentes indicam, porém, que é possível reduzir de 20% a 30% o uso do fertilizante sem comprometer a produtividade. Traduzindo para a realidade paulista: até 420 mil toneladas a menos de produto, com economia entre R$ 700 milhões e R$ 1,1 bilhão por ano.
Niels Grabbert, CEO da Stenon. (Foto: Divulgação/Stenon)
Tecnologia de campo
É nesse ponto que entra a Stenon. A empresa desenvolveu um sensor portátil que mede, em menos de 20 segundos, o nível de nitrogênio mineral e o carbono orgânico do solo, diretamente na lavoura. O resultado chega em tempo real ao sistema de gestão agrícola e pode ser usado imediatamente para ajustar a aplicação de insumos.
“Aplicar nitrogênio cedo demais significa perdê-lo para a atmosfera; tarde demais, e você perde produtividade”, explica Niels Grabbert, CEO da Stenon. “Nosso sistema dá ao agricultor a chance de acertar no ponto certo, reduzindo custos, aumentando a saúde do solo e diminuindo a pegada de carbono.”
A tecnologia é respaldada por mais de 50 patentes e por um banco de dados com mais de 3 milhões de leituras de solo em diferentes continentes. O algoritmo é constantemente recalibrado por machine learning, garantindo precisão em condições tão variadas quanto os solos brasileiros.
Do milho à cana
No campo, os resultados já aparecem. Agricultores do oeste paulista relatam reduções de 20% na dose de nitrogênio no milho e de até 42% na cana-de-açúcar, com produtividade estável ou até superior. Em termos financeiros, isso significa economias que vão de R$ 250 mil por ano em propriedades familiares até R$ 5 milhões em grandes grupos.
O benefício não é apenas econômico. Cada quilo de ureia produzido emite 1,9 kg de CO₂e. Cortar 400 mil toneladas de consumo significa evitar a emissão de 760 mil toneladas de gases de efeito estufa – o equivalente a retirar 165 mil carros das ruas por um ano.
Tecnologia pode economizar R$ 250 mil por ano em uma propriedade familiar. (Foto: Divulgação/Stenon)
Pequenos produtores, grandes ganhos
Embora o mercado de insumos seja dominado por grandes compradores, a tecnologia também pode mudar o jogo para pequenos e médios produtores, que muitas vezes pagam mais caro e operam com margens apertadas. A inteligência de solo em tempo real oferece não apenas economia, mas também a chance de ampliar produtividade e fidelizar clientes, em um setor cada vez mais orientado por dados e retorno sobre investimento.