Kátia Abreu diz que agro vive “segunda fase” baseada em tecnologia digital, governança e compliance — e defende fundo florestal e juro mais baixo
Em painel sobre segurança jurídica do agronegócio, nesta quarta-feira (3), em Brasília (DF), ex-ministra da Agricultura cobrou integração de cadastros, uso inteligente de tecnologia e criticou a manutenção da Selic em patamar elevado.
Nesta quarta-feira (3), em Brasília (DF), a ex-senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu afirmou que o agronegócio brasileiro entrou em uma “segunda etapa” de transformação, em que a tecnologia de produção continua central, mas passa a dividir o protagonismo com a tecnologia digital, as práticas de governança e o compliance exigidos pelos mercados internacionais. “O cliente manda em nós, e não nós no cliente”, resumiu, lembrando que compradores querem rastreabilidade “do berço ao túmulo”, do nascimento do animal ao abate.
Kátia ressaltou que a Embrapa foi decisiva na “primeira fase” do agro, permitindo aumento de produtividade com menos área, menos água e menos agroquímicos, graças à biotecnologia e às sementes adaptadas. Agora, destacou como pilares de segurança jurídica e de imagem do setor ferramentas como o georreferenciamento — que reduziu sobreposição de terras e fraudes fundiárias — e o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que, segundo ela, foi um “salto de governança ambiental” ao tornar visíveis reserva legal, APP, áreas produtivas e degradadas, viabilizando políticas como o Plano ABC.
Ela lembrou ainda o papel de sistemas de monitoramento remoto, como Prodes, Deter, MapBiomas e plataformas estaduais, que detectam desmatamento quase em tempo real, e afirmou que o crédito de instituições como BNDES e Banco do Brasil não leva apenas dinheiro ao campo, mas também padrões rigorosos de conformidade jurídica, ambiental e social, elevando a barra de governança em toda a cadeia. “Os financiamentos não significam só investimento puro e simples, trazem junto o compliance”, disse.
Ex-senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu. (Foto: Evandro Macedo/LIDE)
Apesar dos avanços, Kátia avaliou que o produtor rural está “tonto” diante da pulverização de cadastros e exigências que não se conversam. Defendeu uma plataforma integrada entre órgãos fundiários, ambientais e de registro — especialmente na Amazônia —, financiada por recursos internacionais, pelo Fundo Amazônia e por parcerias público-privadas, para reduzir burocracia, evitar desmatamento e dar eficiência real ao sistema de controle.
Ela também mencionou o lançamento, pelo presidente Lula, do fundo internacional “Tropical Forests Forever”, que pretende remunerar países e produtores que mantiverem floresta em pé, com o Banco Mundial como gestor e fiscalização por satélite. Ao final, Kátia Abreu fez um apelo veemente por redução dos juros, criticou o nível da taxa Selic e disse se arrepender de ter apoiado a independência do Banco Central. Para ela, o juro alto é hoje um dos principais fatores de aumento da dívida pública e um entrave para o financiamento da produção agrícola.